domingo, 3 de fevereiro de 2013

Contra o Medo que mina os professores(uma "rabanada de Vento" da AL)


Não tinha chegado a escrever aqui algo sobre a manifestação de professores da semana passada (dia 26 de Janeiro). Mas fiquei sem palavras a dizer, quando deparei com este fantástico post da minha querida amiga "AL"/Ana, no seu "Oventoquepassa". Disse tudo o que urge dizer sobre o que se passa na Escola Pública e quanto à luta dos professores...
Deixo aqui o link do post e recomendo a leitura, bem como a visita a todo o magnífico blogue:
O poder de que os professores tristemente abdicam" (in blog "O Vento que passa")
O que a Ana salienta é a incompreensível atitude de cedência e até de medo (pelos professores) ,que vem minando as Escolas por dentro  e destruindo a causa pela Escola pública,nestes últimos anos amargos. Saliento um extracto do texto, mas recomendo vivamente a leitura completa:

"os professores têm de se consciencializar do enorme poder que detêm, e usá-lo, sem medos nem mesquinhices. Têm de arriscar perder alguma coisa, dois, três dias, uma semana de salário, se querem ganhar esta guerra de batalhas tantas(...)"

A Ana não fala de cor. Não sei se sabem, mas o seu blogue, "O Vento que passa" é um pequeno reino de bom gosto, de sensibilidade e de reflexão inteligente. Destacou-se em particular nos anos de luta contra a megera Lurdes Rodrigues. Alguns dos seus primorosos textos circularam por mail, de tão bem escritos e corajosos que eram, ousando mostrar como a profissão docente é nobre e intelectual e que os professores  têm o dever de defender aquilo a que têm direito- sobretudo tempo para aquilo para que se formaram (e superiormente!): ensinar. Posts que não se importavam de expor de forma detalhada tudo o que era e é urgente defender no Ensino em Portugal, estando-se nas tintas para a brevidade feita espuma dos dias que se recomenda para o tamanho de posts. Quando é para escrever e detalhar, não devem existir tais calculismos. Um dos seus posts, inclusivé,  andou a circular pela Internet como se fosse anónimo e/ou atribuído a terceiros, chegando a ser a sua leitura recomendada, imaginem... à própria autora!
O seu blogue continua vivíssimo por aí, quando a "AL" até já nem teria  hoje qualquer obrigação profissional ou moral para o escrever. Mas, uma vez professor(a), sempre professor(a), como se costuma dizer. Ou, como dizia há uns anos  largos uma outra amiga minha, isto de ser professor, "torna-se um vício". Balelas para quem reclama que só pode ser professor quem tem "Vocação"! O que é isso de vocação? Fala-se em um padre precisar de vocação (e mesmo assim...), uma mulher que sente  especial "vocação" para a maternidade(mas mulheres que não se imaginavam a ser mães tantas vezes vêm a ser excelentes mães), porém... acaso outros profissões exigem uma "vocação"? Do estilo "Ah, quando era pequenino sonhava ser gestor de marketing" ou "senti vocação para  economista e ministro das Finanças, "assessor-especialista de um ministério" ou algo ridículo como "em criança sempre quis vir a ser secretária administrativa/ técnico de frio/ vendedor de seguros"... As poucas profissões sonhadas em pequeninos passam mais pela fantasia, como o vir a ser polícia, astronauta, bombeiro ou hospedeira do ar. Desenrolam-se estes estereótipos ao longo de décadas e vamos deixando, virando-os tantas vezes contra nós, quando deveriamos agradecer termos um país onde AINDA há professores suficientes para as necessidades (mas já não em todas as disciplinas!), quando em outros países (que cometeram esses erros nos sistemas educativos) agora já só querem saber se conseguem convencer gente suficiente  e que não fuja a esta ingrata e tão massacrada profissão...e sobretudo gente que tenha tanta e tão especializada qualificação quanto existe actualmente na classe docente portuguesa! Quem dera a esses países(e não são  só no  dito terceiro mundo)!  Mas não: muitos cidadãos , a tutela do ministério e  tantos (des)governos em Portugal dão-se ao luxo de desprezar os docentes que existem, dizendo que "são demais" (o que é mentira!), que só estão na profissão por "não terem jeito para mais nada"!... não terem... "vocação"!
Ora o que interessa, quando se tem uma profissão, é tomarmos o que fazemos em mãos e tentarmos ser bons no que fazemos. De resto esssa conversa de vocação é vazia! O que a profissão docente é sem dúvida, para quem alguma vez passa por ela, é um "bichinho" que nos fica inoculado para sempre, a vontade de educarmos, de ajudar  crianças , jovens ou graúdos a descobrir os conhecimentos do mundo, a amar o saber. Quem é ou foi professor, sempre que lê um bom livro ou vê um filme marcante fica com a vontade de logo alertar os seus alunos para essas obras e quando já não tem alunos fica a imaginar as aulas que faria com aquelas descobertas. E quando está entre os seus, em casa, quantas e quantas vezes não o/a mandam calar com "Lá estás tu a ser professor(a) e a falar de escola e de aulas!"...
Sim, ser professor é um vício que nos acompanhará para sempre. Só não sei  bem dizer se é fatídico.
A Ana é uma dinâmica professora-blogger das que sofre por a nossa classe profissional não  ter ido mais além no enfrentar as bestas que querem destruir a Escola Pública. A Ana é da mão cheia dos que ainda ousam sonhar algo diferente e melhor para a Educação em Portugal.
Não é das que são arrogantes e dondocas às Segundas, Quartas e Sextas   e que às Terças,  Quintas e Sábados se transformam em solidárias e lutadoras, para poder virem a ser consideradas umas resistentes corajosas e se" fazerem importantes". Não , não é assim a  Ana. A Ana sente a profissão e é/será educadora todos os dias, mesmo quando se recolhe a algum  silêncio.
Como amiga, também é das que está connosco quando é preciso, dando força. Não é das que promete mas depois enxota. Foi das primeiras a apoiar a criação do meu blogue e das primeiras a aderir a este site também. Essas coisas jamais se esquecem, pois a Ana não é só feita de palavras.
(e tem  sensibilidade ,  inteligência  e humildade que sobram; por isso não lhe dará   para vir a considerar estes meus elogios sinceros  de amiga como um exemplo de... "stalking", e fazer queixa à polícia etc...eheheh!-- é verdade, há quem se lembre disso, fora de brincadeiras!!! Essa estupidez não foi minha, por isso não sei porque hei-de calar mais tempo o meu espanto!)
Visitem o seu blogue e  leiam este seu texto, de entre os vários marcantes que já escreveu. E pensem. Pensem nas formas como quem ama a Educação terá de vencer o medo e o conformismo, pois será a única forma de defender a Escola Pública, a que de facto tem gerado( pela sua qualidade até agora) tantos jovens qualificados que hoje dão cartas pelo mundo fora...
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Tinha outro post pronto para publicar, mas  não trata de algo tão importante, por isso agendei-o para amanhã após o almoço, pois este texto da Ana merece uma leitura destacada e tranquila de final de Domingo.
Margarida Alegria (3-2-2013, in blog "Alegrias e Alergias")
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ADENDA:
No próximo dia 2 de Março, decorrerá, em várias cidades do país, uma nova manifestação "Que se lixe a troika- o povo é quem mais ordena", cerca das 15h (locais  de partida e horas serão divulgadas mais tarde). Todos os portugueses insatisfeitos com o rumo da nossa democracia estão convocados. Façam ouvir a vossa voz!
Um manifesto de título "Maré de Educação" marcou  entretanto para as 14h, frente ao MEC, na 5 de Outubro em Lisboa, uma concentração de professores, que depois se juntará à manif nacional que parte do Marquês de Pombal e vai até ao Terreiro do Paço.

6 comentários:

  1. Isto da Vocação é tema a explorar...
    Deixaste-me a pensar.

    a vida encarrega-se de nos mostrar coisas que gostamos ou somos bons.
    Não sei se nascemos com genes paraisto ou aquilo.
    Mas, sei que há professores péssimos bem como ótimos.
    Tal como em todas as profissões.

    estou para ver o que ainda vem por aí.

    Cheira-me que não ficaremos por aqui.

    Um beijinho

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    1. Olá!
      Espero que já estejas melhor!
      É isso que dizes.Porém, da experiência que tenho e puxando a brasa um pouco à minha sardinha, é difícil ser-se um professor péssimo. Explico: é fácil a uma pessoa ser, por exemplo, nomeada assessora de qualquer coisa e levar o dia de trabalho a fazer "rabos de colher", a "encher " chouriços e a não ser escrutinada por isso. Já na docência a coisa pia fino: temos de repente 30 galfarros diante de nós e temos de mostrar minimamente o que valemos durante 45/50 minutos.
      Lá que há quem não tenha grande poder didáctico ou pedagógico, isso é verdade. Mas pode-se ser o mais profissional possível e dar uma aula frustrante,se não houver ambiente de aprendizagem ou feed-back, por maior que seja o esforço e , por outro lado,dar-se aulas maravilhosas e produtivas sem metade do empenho à partida...
      É uma roleta russa e ,quando se aprende a lidar com uma dada situação, na próxima vez nada se passa de forma igual e não se consegue "aplicar" o que se aprendeu. Podemos errar de novo,pois estamos a lidar som pessoas e não com máquinas (nem somos máquinas), com historial e circunstâncias diversas. Basta um exemplo: se na véspera houve um jogo de futebol polémico e se está numa turma com maioria de rapazes futeboleiros, toda a concentração pode estar arruinada logo à partida.
      Por outro lado, o que somos é mais escrutinados, como professores, e penalizados à mínima falha humana...
      Se calhar a única vocação de que precisamos, nestes tempos, é para sermos masoquistas.

      Beijinho

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  2. Por aqui parece que está tudo recolhido. O frio está a ser teimoso.

    Hoje no Liceu cá da cidade os portões estavam fechados e houve intervenção da polícia e bombeiros.
    Que se passou?

    Um beijinho e tudo de bom!

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    1. É verdade, tenho andado um bocado recolhida...:(
      Não sei disso do que se passou por aí... se veio nalguma notícia, escapou-me.
      Bem. vou ao temaldito post remastigado, mas é porqur o quero bem "didáctico", por ser um daqueles assuntos que me revoltou ultimamante.
      Nem imaginas quantas vezes o tive programado e cancelei a publicação (da pimeira vez até por uma confusão: pensara ter programado para dia 4 e programara para dia 5...mas ainda bem. pois entretanto surgiram aspectos novos.
      Vai ser um post daqueles muito sui generis, só te digo.;)
      Beijinhos e até logo (trata esse resfriado com cuidados e caldos de galinha!).
      Margarida

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  3. É um mal que não me assiste, agora já só necessito da professora vida. Mas estou solidário! Beijoca!

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    1. Ora bem! Como entendo!
      Mas olha que essa é que es é a professora mais exigente de todas... Dá para ter saudades das outras! ;)
      Obrigada pela solidariedade. às vezes bastava aos professores tão só isso, da parte dos restantes cidadãos.
      Beijoca

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