terça-feira, 9 de abril de 2013

Os birrentos e a decisão do Tribunal Constitucional


fotos (c) Margarida Alegria (2-3-2013, Porto)
E pronto. Já aí está a vingançazinha dos meninos birrentos do governo e seus satélites, depois de terem estado  a afiar as facas e a chorar baba e ranho no fim-de-semana (nem os acalmaram serem assoados pelo grande  e alvo lenço do comentador da sua ala política, Marcelo Rebelo de Sousa, que  lhes explicou que uma medida do TC tinha de ser acatada, paciência), depois do Tribunal Constitucional(TC) ter declarado anticonstitucionais (o que todos menos esses meninos já previam) várias medidas constantes no Orçamento de Estado para 2013. Nomeadamente, o corte do subsídio de férias dos funcionários públicos (que, lembro, não é um bónus para além dos 12 salários, mas uma compensação para os magros salários praticados e para o facto de não serem pagos semanalmente), a medida que o TC tinha deixado passar no orçamento do ano passado, só porque o ano já ia avançado; o corte desse subsídio aos reformados e pensionistas ; e, talvez a medida mais torpe de todas, a taxa extra sobre os ("luxuosos", se calhar...) subsidios de desemprego e de doença.  Faço minhas as palavras requintadas de João Quadros e Bruno Nogueira no programa de humor de hoje do Tubo de Ensaio. (na mouche!) na rádio TSF.
Pois bem, hoje passou o período de curto luto desses inqualificáveis revanchistas e anti-democráticos políticos pela decisão do TC. Um luto muito agitado diga-se, que mais lembrava um funeral cigano, com carpideiras a preceito que, em vez de se vestirem de negro e rasgarem os xailes, vestiam fato e gravata e bradavam nas TVs contra o TC e mostravam gráficos e quadros do que se devia agora cortar . Leia-se: do que se devia cortar no Estado social,  isto é, Saúde, Educação, Segurança social, ai que coincidência! Já nas PPPs e Rendas imensas das empresas de fornecimento de energia, nas Consultadorias para pensar pelos  Ministérios, nos Institutos quase fantasma,nos "Observatórios" para cada treta e nos subsídios a Fundações privadas?? nem pensar!.
Os portugueses conseguiam ouvir de suas casas, mesmo com TVs desligadas, a gritaria desses arautos do neoliberalismo austeritário, quer os de cá quer os de Bruxelas ou de Berlim, já muito aflitos e também chantagistas,  dessas carpideiras do "custe o que custar" a bater no peito e a rasgar as vestes:
-Aiiiiiiiiiiiaiiaiaiaiiaiaiaiii! Minha mãeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Ai que mataram o meu paiiiiiiiii Orçamentoooooooooo!
-Aiiiiiiiii que agora  estamos com os calores e à falta de leque vamos é pegar naquele relatório do FMI, aquele cheio de erros e dados manipulados e desatualizados e que já estava no lixo e vamos abanar-nos com isto! Aiiiiiiiiiiii meu irmão Gaspar, meu irmão Coelho, que ficaram órfãos do Pai orçamento!!! Ai que ele ia bater mais e mais nos portugueses e  até podia  ser ilegal e estar cheio de erros e contas mal feitas, mas era o Orçamento dos Orçamentos! Que importa se ia matar  e arruinar mais portugueses? aiiiii que estava tudo a ir tão bem! tantas empresas mais a fechar, coisas tão lindas e perfeitas, tanto "minino" boy a arranjar tacho junto dos ministérios!
E lá distante os ventos traziam mais lamentos bem audíveis:
-Aiiiiiiiiiiii Ke Portugal vai desobedecerrrrrrrrr à austeritaaaaaaaT! Aiiiiiiii Meu Deus, a minha vida e carreiraaaaaa, a minha avó eleiçãozinhaaaaaaa aqui no meu país, que era tão kerrrrrida!!! Aiiiiiiii...
-Aiiiiiiii que Portugal não vaiiiiiiiiii querer continuar a ser tão sangradiiiiiiinho como era! Aiiiiiiii, minha mãe lagarde, que isto nãooooo se faz, nós tão keriiiidos e tão compreensivos para os bons alunos e cheios de pena e de lágrimas de crocodilo pelos desempregados portugueses! Aiiiiiiiiiiiiiiiiaiaiiaiaiaiia!
Passado o funeral e sacudida a última lágrima, o maior órfão do Pai Orçamento Inconstitucional de Estado 2013, o menino Vítor Gaspar, tomou uma resolução. Depois de acender uma vela e rezar pela alma da mais recente santa Margaret, pedindo assim inspiração a essa padroeira da Austeridade,-- protectora dos sem-abrigo do Reino Unido, ontem falecida e já canonizada no templo  de Bruxelas (mesmo que fosse contra a União Europeia)-- fechou-se no gabinete e, ao fim de escassas horas, ao contrário do sucedido no Vaticano, saiu da  chaminé vingativa  da sua caneta um espesso fumo negro de decisão tomada. Negro de mais morte e de mais destruição: redigira e assinara um despacho.
 O que ordena no despacho? O bloqueio,isto é, o congelamento,  com mínimas excepções (  o pagamento de salários, o custear de actos jurídicos e de casos já em processamento) , das despesas correntes  dos ministérios (já tão esmifradas), sem autorização prévia do Ministro das Finanças. Dele e apenas dele, o Todo-Poderoso e dono da razão!
( Bem, mas afinal não estava tudo a ir por bom rumo e a " correr como previsto", nao fora o acordao do TC? Como previsto para quê? para quem? E congelar os gastos dos ministérios por causa de um chumbo que iria apenas contribuir com um 0,5 % do PIB? As dúvidas são legítimas)
Em poucas horas e de entre as várias reacções, o   presidente dos Reitores, António Nóvoa, já veio dizer que isso pode "congelar" por completo o futuro das Universidades ( laboratórios, papel, comida nas cantinas), o Bastonário da Ordem dos Médicos já responsabilizou o Ministro das Finanças, caso venham a morrer doentes nos hospitais, fruto desta medida ciclópica (mesmo que em tom suave, pedindo bom senso e que o governo terá de escolher entre manter vivos os portugueses ou renegociar o Memorando com a Troika). Para já, mesmo antes desta medida, já se tinha a notícia de que a vacina do BCG para as crianças estava esgotada e indisponível... Se agora o refornecimento estiver pendente da assinatura do maquiavélico Gaspar, o que sucederá?
Nem há mais palavras! Não escutam ninguém, estão cegos de fanatismo austeritário, o que cada vez mais aumenta a convicção de alguns de que fazem isto não porque acreditem piamente que vão salvar Portugal com estas medidas, mas porque estão completamente subservientes aos que servem de  verdade: os que querem arruinar os países mais pobres da Europa, para assim conseguirem mais proveitos para os que estão a enriquecer com esta "Crise".
Tanta estupidez, tanta cegueira, tanto fanatismo, já perdeu toda a tolerância da maioria dos portugueses.
No passado dia 2 de Março, por entre os muitos cartazes  de manifestantes que se destacavam e alguns que fotografei, estava o que vemos acima, a explicar a Gaspar o que era isso do Bom Povo Português: "Somos ordeiros,não somos  cordeiros - Chega de sacrifícios!".
Entendam: o povo é tolerante e calmo, mas não quer ser levado para um matadouro que não serve a ninguém (só aos que lucram do costume, os "intocáveis" do sistema financeiro e político e mesmo assim, no médio e longo prazos, até esses perderão).
Para o Gaspar, havia um cartaz apropriado, adequado a quem já só vê os seus modelos e está fora da realidade, quem se injecta de teorias económicas suicidas, delira em "trips" de despachos vários, sentindo-se todo-poderoso, um cartaz que agora se começa a entender melhor:
(c) Margarida Alegria (2-3-2013, Porto)

Às tantas... quem sabe ? :(

Margarida Alegria ( 9 de Abril de 2013, in blog "Alegrias e Alergias")

3 comentários:

  1. Estou zangada.

    Prometeram-me Sol e tem estado por detrás das nuvens...o dia inteiro.

    Assim, não vale.

    Isto faz-me lembrar quando as manifestações pararam a subida da TSU.
    Foi pior a emenda,muito pior, em forma de aumento do IRS, como sabemos!

    Nem quero imaginar o que virá por aí para colmatar este 'novo' buraco...

    Nova emenda pior?!

    um beijinho e manda lá vir o Sol já que és Alegria, pode ser?

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    1. Olá!
      Olha, então pelo que me dizes, o tepo está pior por aí. Aqui continua o sol, embora menos quente (e agora com vento) e há uns farrapos de nuvens no horizonte.
      Se quiseres, apenas poderei enviar-te alguma foto, a comprovar, mas acabaria apenas por te deixar mais arreliada! :)))
      Quanto à troca da TSU (isto é, a TSU muito ampliada para os assalariados) pelo imposto IRS, não foi bem assim. Se bem te deves lembrar daquele fatídico discurso do nosso PM dia 7 de Setembro, o que ele apresentou foi essa subida da TSU E TAMBÉM a alteração dos escalões de IRS, para além de taxas estraordinárias de IRS etc.
      Depois, com as discussões, os jornalistas e comentadores é que simplificaram tudo para o TSU versus IRS!
      E também fizeram crer que as pessoas se manifestavam CONTRA A TSU, quando as manifestaçõs já estavam a ser organizadas há muito tempo e eram de descontentamento geral.
      Quando caíu a proposta de aumento da TSU, fizeram todo um teatro e aplicaram na mesma as outras propostas, quando fizeram o Orçamento de Estado, voltando, isso sim, a cortar em um subsídio para os funcionários públicos, apesar de terem sido avisados de que era inconstitucional, tudo por vingança, em que se especializaram.
      Mas o aumento de impostos e cortes nas deduções fiscais, esses já estavam planeados e continuaram. Depois foi o que se viu.
      Temos de estar cada vez mais atentos, pois há simplesmente um plano para empobecer o país (bem como aos outros países chamados PIIGS), para a Alemanha e outros países mais ricos cá colocarem as suas indústrias que já começam a ser caras ,se mandadas para os países asiáticos (transportes, etc). Mas é uma ideia da qual não perceberam o reverso e que lhes pode "rebentar" nas mãos. Empobrecendo-nos, perdem também clientes e exportações. E temos de estar atentos a todo o TEATRO autêntico que nos vão apresentando, com estas "dramatizações" políticas e chantagistas, que são sobrfetudo para nos fazer pensar: ah, mais vale esta desgraça, senão trocam-na por outra pior...
      Isso é o que eles querem que pensemos, mas é uma falácia!
      Espero que estejas mais ensolarada amanhã (viste o meu post do Relvas?). Vamos a animar! Querem-nos para baixo, mas não lhes podemos dar esse "gosto"!
      Um abraço!

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    2. Ah: e o que eles propõem, quando uma medida é recusada, não é emendar para pior.
      É apenas fazer mais do mesmo, exactamente a mesma receita, com outras vestes, pois nem têm imaginação para mais, nem têm vontade política de fugir a essa receita, pois é para isso que estão mandatados (não pelos portugueses, obviamente). :((

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