segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ai esta vocação marítima portuga! ...

Já começa a cansar este vocabulário náutico usado e abusado pelos nossos governantes.

Todos devem recordar como Cavaco Silva, quando PM a navegar de vento em popa (bem, também posso usar essas metáforas, ou não?!), se auto-denominou "o Homem do Leme".

O próprio Sócrates, com a sua exuberância tropicalista, apelava à expansão, invertendo no entanto o sentido do colonialismo: com a obrigação , a golpes de camartelo, do uso das regras do novo Acordo Ortográfico, por exemplo,abriu portas a imposições linguísticas e económicas de um país fantástico mas que sempre ignorou anterior acordos (o Brasil); e fez vénia a ditaduras de países que ,de ex-colonizados um pouco por todo o Globo,têm sonhos expansionistas só para dar outro exemplo(não, nem menciono explicitamente o caso dos que andam a comprar a nossa electricidade...Nem daquele que agora obriga a cancelar programas de rádio... nem o do que atira computadores ao chão...). E Sócrates e sus muchachos até ao computador de criança que usa peças importadas deram o nome de um navegador: Magalhães.

Curiosamente, este gosto pela gesta portuguesa além-mar não está restrita aos mais poderosos do Estado, mas também aos poderes intermédios: anteontem, o (excelente, aliás!) autarca de V. N. de Gaia, Luís Filipe Menezes, sugeriu que a nova marina que então inaugurou na Afurada,nas margens da cidade, se viesse a chamar algo como marina Internacional Fernão de Magalhães...

Como cantavam Chico Buarque, "Tanto Mar... anto mar..." ,ou Caetano "Navegar é preciso, viver não é preciso...". Parece portanto que todas estas metáforas são processos de fuga da nossa triste realidade, recorrendo a uma das únicas épocas históricas em que Portugal foi respeitado. Sempre aplicada essa imagética, portanto, às épocas em que mais humilhados fomos na nossa soberania (o início do domínio da UE no país e agora o domínio transnacional e extra-política da "Troika"). Imagino que durante a ocupação pelos Filipes de Espanha, esse tipo de metáforas também andasse nas bocas nacionais (daí o desejado e encoberto D. Sebastião terrestre surgir num marítimo "nevoeiro")....

Em escassos meses de novo governo, tivemos o nosso PM , o mesmo que denunciara o desvio colossal e defendera a necessidade do empobrecimento e a emigração, a dizer que em 2012 iriamos passar o Cabo das Tormentas, evocando assim o feito de Bartolomeu Dias e, em seguida, de Vasco da Gama, não precisando exactamente qual é a Índia que agora ele, Passos Coelho, pretendia alcançar. Desconfio que desejará alcançar precisamente a Índia da actualidade, com a sua enorme desigualdade social e sistema de castas, o tal que não permite a melhoria pessoal de nível de vida de cada um e que leva a que, ao lado de pedintes sem quaisquer direitos (os tais designados por "Intocáveis" ,na República Indiana) se construam palácios e prédios de luxo de uma só família, outro tipo de "intocáveis", chamar-lhes-iamos no Ocidente dos Direitos e igualdades sociais (que agora está moribundo).

O fiel ministro Relvas veio depois reforçar a ideia, defendendo que emigrar era bom e que eramos um povo que se celebrizara com os Descobrimentos e com vocação aventureira e ultramarina. Milhares de portugueses atreveram-se recentemente a seguir estes conselhos e estão agora a passar dificuldades (por África, mas também na Suíça), pois até essas terras de leite e mel de oportunidades de emprego só aceitam imigrantes que venham já com contratos e perspectivas seguras de alojamento e radicação. Talvez como nós deveriamos fazer, quando os seus autóctones são cá recebidos como emigrantes, sem papéis e sem trabalho...

O mais recente Nauta foi o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que numa entrevista ao "Financial Times" de 1 de Fevereiro, perante as perguntas pessimistas internacionais, replicou que , apesar das dificuldades à vista de todos, nós, os portugueses, "temos tradição de ser BONS MARINHEIROS" (sic). Ou seja, traduzindo as implicações destas palavras em Língua marinha: embora seja previsível o naufrágio, qual Grécia ou navio de cruzeiro "Costa Concordia" (já comentado neste post AQUI), apesar de todo o "meter de água" dos enganos nas previsões do Défice, Portugal estaria no bom rumo e os portugueses já tinham experiência em navegar quase sem bússula, com coragem e Fé. Só que o problema é que desta vez a fé não é em Deus ou em Nossa Senhora de Fátima, como os pescadores de Caxinas, o que poderia proporcinar um milagre. Neste caso a Fé é mais que crença ou confiança: é uma Fé ou "fézada" cega e suicida nas ideias teóricas criadas por neoliberais ociosos em tempo de vacas gordas (ai que as vacas rurais parecem aqui deslocadas em tanta imagem oceânica, não acham?), uma Fé sem rumo, a lembrar aquelas anedotas com freirinhas pouco sagazes... a Fé em São Troikas, em Notre Dame de Merkozy, em Santa Austeridade dos Passos Perdidos, em Santa Fénix do Empobrecimento, que ressuscitará das cinzas da miséria total.

Para prolongar toda esta rede de metáforas, esperamos quem nos venha lançar a "Bóia de Salvação" que acenda o "Farol" da inteligência e nos guie para longe dos escolhos que nos esperam para o inevitável naufrágio, ao prosseguirmos esta navegação à vista, suicida e disparatada. a meu ver, esse alguém só poderemos ser nós, cidadãos intervenientes.

Para já( e à cautela), proponho que nos disfarcemos de ingleses. Como foi noticiado no fim de 2011, o Reino de Sua Majestade já tem preparado um plano de contigência, para a evacuação de Portugal, por parte dos seus súbditos aqui radicados ou turistas. Como já há muitos ingleses habitantes do "Allgarve" que anunciaram logo que preferem empobrecer com os portugueses e com sol, do que ir partilhara mediania friorenta de vulgares "bifes" na Grã-Bretanha, julgo que sobrarão algumas vagas nos navios (verdadeiros!) e aviões (mais confortáveis do que os da Ryan Air...) fretados para os levar, no plano de Evacuação. Sugiro portanto aos leitores que se pintem de cor-de rosa, peguem em garrafas de cerveja e sangria e desatem a falar exclusivamente em Inglês, para irem treinando...

O pormenor sinistro no meio disto tudo, o que denota o proverbial pessimismo britânico (mas também o seu sentido prático) é que o dito Plano de Emergência e Evacuação tem por modelo o que foi usado para trazer para segurança os britânicos que estavam no LÍBANO, há uns anos, aquando de uma... Guerra Civil.

Pois... :((

"Alergia" (6-2-2012, in blog "Alegrias e Alergias")

2 comentários:

  1. Eu ia comentar o teu post de uma forma... mas soube hoje que era um PIEGAS!!
    E como tal... não posso... estou a chorar tanto... sou mesmo um PIEGAS!!

    (Ái se eu apanho a jeito aquele Passitos!!!)

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    1. Ora fiz ontem mesmo um postezito sobre esse assunto...:))
      Uma pieguice pegada!

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