("Redondo Vocábulo", José Afonso. Animação 3D por "legohist", no Youtube, 2007)
Não queria deixar passar esta importante efeméride. Foi já há 25 anos (e um dia...) que faleceu José Afonso /Zeca Afonso, o génio incontestável da música portuguesa contemporânea.
Questões de saúde impediram-me de marcar a data ontem, mas deixo agora este belo video com uma interpretação possível do tema. Segundo o seu autor (do video), reflecte "a angústia de uma gestação ou maternidade em tempos de guerra, no ultramar."
Foi sempre um dos mais belos e enigmáticos poemas de Z. A. ,escritos na prisão, numa sua fase mais surrealista. E a música e os aparentemente simples arranjos da canção ajudam a recortar a sua magia e a sua melancolia.
Talvez o poeta-cantor reflectisse nele a longa espera que viveu*, aguardando o fim do cárcere. No"filme" na minha cabeça**, imaginava antes tudo em tons de azul, as paredes de cal a cair, a "Laura" do tema como uma rapariguita sentada numa cadeira, de costas direitas, paralisada pelo medo e pelas convenções que não entendia. No fundo talvez a Laura de "ar educado" fosse para o Zeca o Portugal triste de então... e o Portugal de agora.
O que marca os génios: serem sempre actuais...
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( * e ** Nota--na esperança de que a inteligência e a sensibilidade brote de algumas mentes embotadas: e sim, também o Zeca, como toda a gente que cria, no fundo também falava de si próprio nas suas criações. Impossível não o fazer. Só quem não cria e quem fala e pensa no "eu eu eu eu" a toda a hora na sua vida egocêntrica é que pode criticar quem espelha um pouco de si no que faz. Só quem não faz nada de seu é que pode depois fingir falsa modéstia. Só quem não tem "eu" para espelhar é que nem cria , nem deixa os outros criar, nem entende esses "reflexos" dos outros. Só quem tem um "eu" vazio tem raiva às "canções" de vida que brotam dos demais e pensa que tal é apenas o "eu eu eu" deles a falar. Só quem vive a sugar as emoções dos outros e a usar os outros como espelho da imagem que gostaria de ter é que não entende os "eus" dos outros... Somos feitos daquilo que vivemos e sentimos, com os outros- mais próximos ou distantes-- e através dos outros também...Mas há seres para quem a preocupação, o respeito e o carinho só têm um e único sentido, o que aponta para si próprio... Triste, triste... muito triste...)
A sua obra perdurará para além de nós e com todo o merecimento!
ResponderEliminarA sua obra é intemporal. De cada vez que ouvimos, mantém sempre a mesma frescura! Letras lindíssimas, música autêntica, arranjos que hoje nem com sintentizadores são igualados, a voz límpida...
EliminarE como antevia tanta coisa que hoje (ainda) sofremos.