domingo, 6 de maio de 2012

Minha Mãe

(Madame Vigée-Lebrun , auto-retrato com a sua  filha.- Museu do Louvre)

O meu pai tinha uma forma linda e carinhosa de tratar a própria mãe ( minha avó, portanto).
A minha avó não era uma pessoa fácil. Muito autocentrada, tirânica até, nunca "ligou meia" aos netos ,contradizendo a ideia que se tem de "avozinha" (felizmente tinhamos outra, mas que nos durou muito menos...). Talvez apenas a neta mais velha tenha recebido uma prendinha dela, nos primeiros anos. Não se lembrava de nos fazer um carinho, era imperial, de dentro do seu arrebitado  metro e 40cm ; e  só falava de si: das classificações que tivera,dos cargos que tivera, das propriedades que tivera e sonhava ter, do que fizera, do elogio que um tal bispo lhe tecera... histórias que escutávamos todos os santos domingos e já sabiamos de cor.
O meu avô era, por contraste e equilíbrio,não tenho dúvidas, um Santo. Um Santo quase silencioso e sofredor. Profissionalmente fora seu superior e tivera  ainda melhor currículo, mas só tinha olhos para ela, deixando-a brilhar sozinha, contemplando-a embevecido do cimo do seu quase "o dobro" de altura. Mesmo assim os filhos veneravam-na e moviam céus e Terra por ela.
Ouvi sempre o meu pai a tratá-la, não apenas por "Mãe" (jamais por "Mamã", que não se usava!), mas ou por "Mãezinha" ou, o que era mais especial e delicioso , por "MINHA MÃE". Ele era "Oh, minha mãe, não faça uma coisa dessas!", "Minha mãe, sente-se aqui.", "Minha mãe deixe que eu trato disso."..
Aquele determinante possessivo fazia a diferença e reequilibrava o paradoxo espalmado naquela senhora. Fora mulher de armas e excelente profissional, mas à família não dera vida fácil, por feitio, embora cumprindo todos os deveres inerentes. Concluo, portanto, que deve ter sido uma boa mãe, pois para tantos filhos -- que em pequenos muito enfeitara com laçarotes e cabelos frisados "à menina", em foto de os embaraçar para o futuro(aguardando sempre por uma filha, que acabou por chegar) --continuava a ser a "MINHA Mãe". Não era a mãe de outros, não era uma mãe qualquer: a mãe era DELES e de mais ninguém.
Os meus irmãos e eu, tivemos, quanto a mim, uma sorte muito maior, quanto à Mãe que "os Fados" nos atribuiram, não só porque era e é a NOSSA/MINHA Mãe, não só porque foi uma professora exemplar, uma mãe dedicada e atenta, mas porque além disso foi e É ainda (graças a Deus!) uma pessoa de excepcional Humanidade. Talvez graças, também, à acção da SUA Mãe...
Como me disse um dia  uma amiga que a conhece e foi sua colega: "A tua Mãe é daquelas pessoas que ilumina uma sala  , quando entra!"
E tem razão.
 Ilumina, não como certas pessoas que têm daquelas atitudes imperiais em altas vozes e como  que "se fazem  anunciar" à chegada, mas por trazer sempre um conforto bom com a sua  mera presença. Longe de a atitude do "Cheguei vi e venci", pois até é bastante tímida ( agora com a idade, menos...), mas por recentrar tudo o que é importante, quando chega, mesmo que nada diga.
 Ilumina não só porque é bonita (e é-o , sem dúvida, não o digo por ser a "MINHA" Mãe...) e não só porque tem um sorriso rutilante e inesquecível, mas porque do seu interior brota um sentido optimista mas muito franco de ver as coisas, de encarar os problemas. Não um optimismo pateta de "laissez faire", mas aquele que resulta de olhar os outros com a atenção e o respeito que merecem, seja de que condição social for, fosse o estado de espírito dominante soturno que estivesse na dita "sala". Apesar da carga de problemas que carregava na vida, podiam estar todos a falar, por exemplo, da maçada da chuva, quando chegava e chamava a atenção para as flores que brotavam, o arco-íris que não tardaria, isto metaforicamente falando, claro.
Por isso lhe imploraram a certa altura para dirigir um Conselho Directivo numa escola difícil, no pós-revolução, pois  era a única que conseguia conciliar todos, mas a todos também ouvir e fazer justiça e levar a escola a viver para o que devia: ensinar (coisa que agora se está a perder de novo, a destruir,com a reentrada da política nas escolas via "directores" e Conselhos gerais cheios de autarcas).
 Dava-se bem com colegas da sua geração, mas era acarinhada e recebida em braços pelos colegas mais novos, que sempre se sentiam à vontade ao pé dela, ultrapassando barreiras de idade e de pontos-de-vista. Era capaz de dar um raspanete a uma funcionária por uma tarefa trapalhona, para mais tarde ser coberta de beijos e recordada com veneração pela mesma, tudo porque também sabia fazer o elogio justo na devida hora e tratava todos como seres humanos e iguais que somos na Criação.
Quando as pessoas diziam como era bonita, logo corrigia que a irmã, essa sim era bonita,-- realmente uma estampa de revista, de feitio mais coquette e rainha dos bailes. Porém quem via a minha mãe raramente a esquecia (não esquecia qualquer uma das duas!) , talvez pelo expressivo olhar, talvez pelo sorriso acolhedor, por todo um conjunto, uma presença com personalidade. Sendo considerada uma Sensata amiga, uma pacata filha e irmã, sempre tivera vários pretendentes a arrastar-lhe a asa, mas não ligara a nenhum, o mesmo acontecendo, curiosamente ao meu pai, com imensas a fazer-lhe olhinhos, mas mantendo-se respeitoso, distante e sonhador. Um dia, embora já se conhecessem através de irmãos, o meu pai fez com ela o trajecto a pé até à Biblioteca para onde ambos iam estudar em pós-licenciaturas, voltaram a fazer tais percursos (devidamente anotadinhos em agenda/mini diário, como mais tarde, nós filhos,  viemos a descobrir, espantados!) e foi um Amor para a vida. Mas isso é outra história...:)
A minha Mãe teve de largar os seus projectos de carreira universitária, seguiu o meu pai por vários recantos perdidos do "mundo" e do País, criando a família com uma notável vocação de Mãe. De Educadora.
Portanto, neste dia da Mãe, que poderia  ser num outro qualquer do Ano, este post não é, tenham lá paciência, dedicado a todas as mães, mas sobretudo à mãe que é a minha: à MINHA Mãe.
Impossível de sintetizar tudo o que foi e é para nós, seus filhos( vou fazê-lo saltitando no tempo, em vagas, centrando-me nas partes felizes): enquanto era "apenas" dona de casa, era a mãe atenta mas não excessivamente controladora, aquela a quem voltávamos , para contar os nossos pequenos dramas. Sabia sempre dar-nos um bom conselho, ajudava-nos a "ler" o que viveramos na escola. Incentivava-nos a nos abrirmos, sem forçar. A Lermos o mundo. Ver notícias em casa não era um tempo de silêncio: gostávamos desde cedo de comentar o que viamos, expor dúvidas pelo que se passava, interpretar as incoerências da Humanidade. Os nossos pais, ao contrário de muitos, incentivavam-nos a conversar às refeições, que eram quase sempre tempos vivos, proveitosos e alegres, como testemunhavam os nossos amigos.
Por vezes o voltar para a mãe era apenas para corrermos silenciosos para o seu abraço imenso, para lhes darmos as mãos, as suas enormes e confortáveis mãos que ,por vezes geladas da má circulação e de pouco tempo para  manicures, envolviam as nossas mais pequenitas.
Era os pedaços de papelão embebidos em água para nos sarar os "galos" na testa e lá parávamos o choro e andávamos a passear todos contentes até o papelão secar e cair. Um tinha um galo... todo o "rancho" pedia um papelão para os "galos" imaginários e solidários!
Era a supervisão distante dos trabalhos de casa, só maior para quando houvesse dúvidas, mas sempre atenta a que não fizessemos batotas nas contas, nas provas dos nove...
Nunca andou a aborrecer professores, a não ser que visse que algo nos angustiava e queria alertar os docentes para isso. Mas o professor era sagrado e deveriamos respeitar todos, por mais diferentes que fossem, tivessem o método que tivessem. Errados que pudessem estar, pois temos de conhecer todos os lados de um mundo assimétrico, nem sempre justo.  Dizia-nos:" se estiverem com dúvidas nas matérias, peçam-me ajuda, veremos o que se pode fazer, nem que eventualmente precisem de explicações, embora eu saiba que são todos inteligentes e não têm motivos para ter negativas. Mas AI DE VÓS que eu venha a saber que foram mal educados com algum professor ou funcionário! Para isso não há desculpa possível!"
Era o escutar as nossas fantasias, enquanto mascava as pontas das linhas ou com alfinetes na boca, enquanto nos costurava um vestido, cosia bibes, aplicava joelheiras e cotoveleiras na roupa dos meus irmãos, transformava um vestido numa saia de alças para as meninas, ou um velho vestido das meninas num vestidinho "novo" para as nossas bonecas.
Era a sua arte de receber as outras "madames" e ter de aceitar convites para chá quando preferiria estar connosco, mas também  a capacidade de conversar com as pessoas mais humildes.
Há poucos meses revisitámos uma nossa antiga casa e foi debruçar-se à janela do que fora o "quarto da costura", foi um regresso no Tempo: curiosamente o mesmo gesto que tinha diariamente, para espreitar se as nossas brincadeiras no quintal estavam a decorrer sem sarilhos.
O meu pai defendia que a nossa casa era em primeiro lugar para ser gozada por nós e só depois para os outros, por isso não era nunca daquelas casas-museu exageradamente perfeitas, que as crianças não podem percorrer no dia-a-dia. No entanto, faziam sempre o possível para que tivessemos sempre um recanto para nós, para desarrumarmos à vontade e brincarmos(coisas que agora tantos pedo-psiquiatras aconselham mas então era a sua sabedoria de pais que intuia): um quartito "de brinquedos", um anexo de quintal, uma grande sala na cave, um jardim-- houve sempre alguns espaços para nós nas casas que habitámos. Cabiam lá os nossos brinquedos, as nossas aventura imaginárias a imitar séries de TV, as festitas de adolescentes, os muito  e variados animais domésticos. De galinhas a gatos, de peixes a ratinhos brancos, de pombos a... salamandras(nem tudo ao mesmo tempo, calma!). Apenas demorámos a  que deixasse termos um cão, pois fora mordida em criança, mas lá acabámos por ter um, que até salvou de morrer e ao qual se dedicou com alma  de enfermeira Nightingale, até durar muitos anos mais! Para tudo dirigia a sua carência profissional da Biologia, desforrando-se no cuidar das plantas, no incentivar-nos a construir um lago minúsculo para rãe e girinos. Chegou a operar o papo de uma galinha!
Quando achou que já cresceramos bastante e viviamos numa cidade, foi leccionar (e em bom tempo o fez, antes de passar a ser "pai e mãe", como dizia...) e então repartiu a sua sabedoria e o seu sorriso maternal por muitas crianças, que passaram a venerá-la e às ciências, fazendo aulas de campo, observando os frascos que levava de casa com os nossos bichinhos apanhados no campo e já em formol-- do qual se destacava aquele que chamávamos de "Clerasil", um sapo gigante! Os meninos traziam-lhe os livros que tinham em casa sobre animais e a Natureza, tantos deles prendas de aniversário antes nem sequer abertas ou exploradas, e muitos enveredaram pela via científica pelo que neles a MINHA Mãe despertou, como mais tarde tantas vezes o testemunharam em encontros fortuitos. Biólogos, médicos, mas também juizes e  de outras áreas que tanto hesitaram se seguiriam letras ou Ciências. Foi das primeiras a dedicar bastante tempo a ensinar aos meninos o que era habitat e Ecologia. Ainda não havia quaisquer anúncios   televisivos de macacos "Gervásios" nem de sociedades ponto Verde e já a minha mãe procurava  ensinar-nos a reciclar, a filhos e alunos, procurando vidrões e as farrapeiras que recolhiam papel. Muita viagem fiz com ela a descobrir aonde ainda existiria uma "Farrapeira" nas redondezas!
Já a tinhamos menos em casa, mas continuava a ser a Nossa/ MINHA Mãe, assim como agora é a avó mimada pelos netos. Então era ela a poder a partilhar os seus próprios dramas diários, o aborrecimento por ter precisado de ralhar a um aluno, a felicidade pela aula com experiência de dissecação ou  de microscópio que correra muito bem , mas sempre sempre ainda  com tempo para nós. Só não tinha muito... para ela.

Claro que nem sempre o relacionamento com ela foi "rosas"! Claro que houve  discussões e choque de gerações, como com todas as mães. Tinha de haver. As gerações encontram-se e prolongam-se, mas estão irremediavelmente apartadas pelo Tempo: há modos de pensar que se adaptam e mudam e a MINHA Mãe acabava por aceitar as mudanças, mas nós também não a obrigávamos a pertencer à nossa geração. Queriamos nela  a senhora da geração anterior, a Mãe que era  e também amiga, mas não a amiga com vergonha de mostrar a sua autoridade de mãe. E longos anos já de ... pai e mãe em simultâneo. Quantas vezes não tinha a razão do seu lado, mas ganhava a discussão, graças a sua poderosa capacidade de argumentação... só no fim pensávamos: "'pera lá! Mas EU é que estava certa!".
( Poderia ter sido também uma boa advogada...!). :))
Já o meu pai era o sonhador romântico que nos ensinava a gostar de livros , de desenho e banda-desenhada, de aprender sempre  muito pelos livros e  a ter sempre curiosidade em aprender tudo. Era, como bem diziam, um homem bom como já "não se fabricam" e...enciclopédico. Uma lâmpada fundia e com a lâmpada na mão o meu pai explicava como funcionava, apontando para os filamentos e porque falhara. Enquanto durava a explicação, a minha mãe, a educadora prática, ia buscar uma lâmpada nova e colocava-a. Complementavam-se. O meu pai, ao contar contos de fadas, era preciso e romântico nos detalhes, fiel à história, do príncipe e da princesa, das Fadas,  do coelhinho que ia às couves e ficava sem casa. A minha mãe, por seu lado, para escândalo do rigor meu pai , fazia-nos delirar com os detalhes inesperados que introduzia nas histórias: o coelhinho ia às couves mas de permeio parava num recanto para... fazer cocó! ENA! ahahah! delirio e risos nossos, protestos do meu pai! O meu pai cantava muito bem, voz de barítono bem colocada, mas para canção de embalar, sobretudo se estivessemos com febre, tinha de ser a nossa mãe e mais ninguém, sempre a mesma cantilena sem letra (oh larô Larô. Larito...), fora de afinação não por má voz mas por uma cicatriz no ouvido, mas SÓ ela a podia cantar! Mais tarde descobrimos , num filme clássico , a preto e branco,que a anónima melodia era de... uma marcha militar!
Era  e é , portanto,  muito especial, a minha mãe. Talvez nos devesse ter obrigado a certas coisas, mas pelo menos obrigou a tantas  outras que muito agradeço: o sair do reduto do lar para ir a campos de férias formativos no Verão, para me tirar um pouco da "casca" e conhecer jovens de todo o país, sobretudo realidades diferentes ( conheci adolescentes com uma visão arejada e culta que tomara agora a tanto deputado de aviário quem nem sabem o nome dos preisdentes); obrigar a apanhar os autocarros para a baixa e ir a pé para a escola, obrigar a comermos tudo do prato, sem caprichos, nem que levássemos horas...

Porém não existem "cursos" para se ser mãe e pai. Todos erram, todos erramos, não há pais perfeitos, por melhores que sejam. Àparte  o caso daquelas mães desnaturadas que envenenam os filhos, "Mãe só há uma" e todos devemos estimar e acarinhar as nossas Mães, por muitos choques que  tenhamos com elas. Tudo porque é a NOSSA Mãe e Ponto final.
Acredito que as mães fazem o que sabem pelos filhos. Cabe-lhes fazerem o melhor que podem segundo as circunstâncias. Sobrevivemos às agruras da Vida com elas, por causa delas, apesar delas, por vezes. Mas é assim há gerações e gerações. Não devemos imputar-lhes as nossas frustrações. No meu caso sempre nos demos bastante bem, talvez por afinidade de feitios, embora não chegue ao seus calcanhares de "Sábia", mas também fez sempre menos cerimónia comigo do que com os meus irmãos, o que não é propriamente uma vantagem, bem longe disso. Mas foi assim que a Vida se traçou...
 Tantas e tantas recordações soltas! (que não quero que se percam na linha do Tempo) Também as dos gestos inesperados e especiais que tinha, com toda a sua generosidade, rasgos ousados do fundo da sua timidez: o deixar que muitas crianças amigas nossas vizinhas lá passassem tardes inteiras ,almoçassem e até experimentassem connosco cozinhados para lanches, a sujar a cozinha. "A sua casa deve ter mel!" Dizia-nos uma vizinha e amiga. O trazer o netito do merceeiro lá a casa para o garoto ver o que era um computador, então o ZX-Spectrum do meu irmão; como moveu mundos e fundos para ajudar uma senhora  quase desconhecida que estava para ser despejada da casa que sub-alugava (descobrindo a existência da APAV, então a dar os primeiros passos); as longas horas de conversa a tentar aconselhar amigas minhas que  a procuravam para desabafarsobre as suas dúvidas na escolha do curso;  e atitudes para  com completamente desconhecidos, como daquela vez em que havia uma greve de transportes e, subindo de carro uma longa avenida, se condoeu e parou para oferecer e dar boleia a uma  humilde avó  que subia o passeio a custo a pé com os seus netos!
Tantos e tantos momentos que jamais esquecerei. A MINHA Mãe, minha grande confidente e Amiga. A boa vizinha, a professora querida de outros, mas a MINHA Mãe...
Hoje já não aparenta a "mulher de armas" que foi. Os anos, as noites mal dormidas, a exaustão de a todos atender acabam por pagar o seu preço.
É um passarito jovial e diz sempre que" tudo é maravilhoso", desde o acordar, até algo que saboreia, da alegria em cumprimentar as meninas da caixa do supermercado até à amorosa  criança com quem mete conversa. "Foi tão bom falar consigo!".exclama, "como é tão bom tomar este café aqui!".  Raramente tem um momento "para baixo". Com a vida que levou, o problemas que nunca cessaram de lhe bater à porta, as autênticas tragédias que sofreu,  teria muitos motivos por ter desistido de lutar, por ter desanimado e deprimido em tantas alturas,para se tornar amarga e revoltada,  mas foi sempre a campeã da resistência.
Como tenho saudades dos seus conselhos, das recordações que me narrava e como me teriam sido tão úteis mesmo agora, essas conversas, eu feita adulta (que remédio!), em tantas ocasiões que vivi!
Hoje quem a vê nem sonha  que passou  o que passou, todos gostam de vir retribuir os beijinhos e abraços e cumprimentos que distribui por conhecidos e não-conhecidos com quem nos cruzamos, conseguindo pôr muito sorrisos em muita cara macambúzia que se ilumina depois da perplexidade inicial quando saúda! Agora tantos quase desconhecidos  vêm perguntar pela mãezinha, aquela senhora que distribui cumprimentos e elogios por quem passa , aquela que agora é de novo menina, onde descobrimos, com espanto, a garotita traquinas  e dançarina que deve ter sido antes de se tornar na jovem e mulher sensata e mais reservada.
Apesar de todas as mossas da vida, posso concluir que a MINHA Mãe, foi e é uma mulher feliz, sem rancores para com tudo aquilo com que a vida  a surpreendeu. Ela é sem dúvida a Nossa/Minha grande Heroína, o nosso modelo de vida, em toda a sua simplicidade e franqueza. Reina nela uma  tranquilidade luminosa, não derivada  de  qualquer  irresponsabilidade ou inconsciência mas precisamente por ter a mente limpa de remorsos, por ter procurado fazer sempre o que é bem, sem maltratar os semelhantes.
Ensinou-nos a ver o mundo com compaixão e  a sabermos distinguir que nem todos têm o que têm só graças ao "mérito", como se diz agora, que há muitas voltas na vida e que o Ser humano merece ser bem tratado não por ser inteligente ou famoso,ou por ter  sorte no destino,  mas porque é um nosso "irmão",  que com todos devemos ser atenciosos e justos, embora não devamos pactuar com o que vemos de errado.
Hoje goza o descanso de ser" filha" dos filhos  e de  ser avó ,agora ela apoiada, acarinhada, mimada até, uma "menina" linda sempre fresca e jovial, com pequenas rugas e manchas da idade quais marcos no mapa da sua vida quase sempre imprevisível. As mãos mais enrugadas mas sempre grandes, agora já com tratos de manicure.
 Mas sobretudo sempre e sempre aquele sorriso e aquela "presença que ilumina"  cada lugar onde entra!
 Muito mais havia a recordar, mas o texto vai longo e já tive que o "costurar". Acarinhem  e louvem as vossas mães neste dia, mas, usando a expressão do  meu pai, contra ventos e marés, esta foi e é  não uma qualquer e não a VOSSA, mas " a MINHA Mãe".
Margarida Alegria (6-5-2012, Dia da Mãe, in blog "Alegrias e Alergias")
(POST Scriptum: eu sei que fiz batota com a data da postagem, tendo passado dois dias desde que  escrevi o seu miolo até postar de facto, depois de tanto acrescentar, remendar e cortar ao texto. Tenham lá paciência. De cada vez que vinda rematar o post acabava a recordar mais coisas de lágrima no olho e a acrescentar detalhes, muitos dos quais acabei por retirar. Afinal, sempre é um texto sobre a MINHA Mãe, condescendam... A imagem que escolhi era, se a memória não me trai, uma das que surgia nas  tampas das caixas de chocolates que a minha mãe reaproveitava para guardar carrinhos de linhas).

8 comentários:

  1. Olá Margarida,
    Comoveste-me! Emocionas-me.
    Como deve ser uma mãe! Como ofoi, como o é!
    Li todas as tuas palavras e denota-se uma admiração extasiada.
    Presumo que saibas a sorte que tens ao teres a mulher espetacular, que descreves,como educadora, companheira e mãe. Não vou dizes que te invejo pois é muito feio. Mas,não tenho estas coisaslindas para dizer da minha mãe. É o meu grande trauma. eu não interesso nada nem sou chamada para aqui.
    O que é de salientar é esse amor colossal que se eleva nas palavras, que se faz nosso.
    As palavras parecem-me limitadas, deficientes para acrescentar o que quer que fosse.
    Estou comovida, tenho dito.
    Um beijinho para a filha que o é graças, também, à mãe.

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  2. Bom dia/boa tarde, querida Pérola.
    Nem me fales, nisso de as palavras serem limitadas... o que me custou escolher cada uma do post, achando sempre que não era suficientemente justa e precisa.
    Mas acabei por dar por findo o post, já altas horas da noite...
    Sim, sei a sorte que tenho e sim há um amor imenso de filha em cada linha que escrevi.
    Quanto à tua mãe, lembra-te só que apesar disso estás agora com a tua própria família e com a noção de que queres ser uma mãe melhor do que a que possas ter tido. E naquilo que escrevi acima sobre as mães em geral: sobrevivemos "com elas, por causa delas e APESAR DELAS"...
    E mais não sei dizer. Nos próximos dias vou dedicar-me a algumas causas educativas e também a VÁRIOS cartoons que já esperam há muito e outros que surgiram agora na imaginação, de assuntos nacionais, que mais poderia ser?
    Estes políticos não nos dão descanso, bolas! só disparates!
    Obrigada mais uma vez pelas sábias palavras e gentileza.
    E sim, também fiquei comovida q.b,aliás muito!, de cada vez que regressava ao texto... até o blogger ficou um tanto "marado" ontem ao publicar, não permitindo já a correcção de certas gralhas...
    Beijinho grande.

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    1. Qerida amiga, permite-me que te trate assim,
      Pois comoveste-me e muito.Tens razão, as mães também nos ensinam como NÃO devemos ser.
      Quanto ao lema, adorei: 'Uma visita por dia, não sabe o bem que lhe fazia!'
      Fica no ouvido, precisamos dessas mesinhas caseiras para espantar este marasmo sombrioem que nos encontramos mergulhados. Alinho e serei a tua primeira eleitora e diretora de campanha -eis lá que já me setou a esticar, mas assenta bem com o cargo de Vice presidenta deste mundo!- que achas?
      Hoje postei sobre as minhas fiéis amigas.
      Amanhã sairá sobre o tema que me propuseste: a água. Tema dificil, depois dá a tua opinião sincera.
      Aguardo novos desafios depois de concluires o meu ( não te escapas, não!).
      Um grande beijinho e fica muito bem!

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  3. Lindo lindo depoimento :)
    E que o Dia da Mãe seja todos os dias da nossa vida!

    Beijinho*

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    1. É isso! Dia da Mãe todos os dias, a celebrar o que é importante!
      Obrigada!
      Beijinho :)

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  4. Nunca esquecerei o carinho com que a tua Mãe me recebeu quando fui viver para o Porto e como a vossa casa era um espaço tão bom e são onde eu podia ser eu.

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    1. Belos tempos, amiga!
      deves ter reparado que a amiga que eu menciono e que disse a a minha mãe iluminava tudo... eras tu! :)
      Palavras que nunca mais esqueci.
      Sim, voltas a ser precisa e sintética nas palavras: era um lar onde nós podiamos ser nós e todos podiam ser quem eram.
      Um beijinho!

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    2. E o mesmo poderia dizer da tua querida mãe, uma outra "senhora" e "mulher de armas"!

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