quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O MacNata

(Declaro publicamente que este, na imagem, é um pastel de nata comum e não a receita exclusiva do Pastel de Belém lisboeta)

O castiço Ministro Álvaro, de Economia e outras coisas mais, que aqui no blogue foi tema de um dos meus primeiros posts (VER AQUI) voltou à sua fase de rosto sorridente e cabeça a fervilhar de ideias, digamos, originais. Andava o senhor tão sossegadito, quando resolveu voltar a fazer aquilo em que era especialista, antes de tentar governar várias pastas ministeriais.Dar palpites e palestras.

Na conferência "Made in Portugal" , promovida pelo Diário de Notícias, fez uma longa dissertação sobre as qualidades e também os dramas existenciais do nosso ainda tão ignorado produto português que dá pelo nome de Pastel de Nata.

Ler e escutar em directo este longo discurso empastelado (mas sem toques de canela):
"Santos Pereira: porque é que não conseguimos exportar o pastel de nata?"
(Jornal de negócios)
E a ideia básica? O Ministro Álvaro conta a história comovente e de abrir o apetite de como ,na África do Sul ,um empreendedor português conseguiu criar uma cadeia dos seus frangos de churrasco (diz o ministro que é um produto "português" -???), a cadeia "Nando's". Um pouco ao estilo, explica também Santos Pereira, como a cadeia McDonalds com o "hamburguer". de seguida parece assegurar a pés juntos que nunca nenhum português conseguiu exportar dessa forma o nosso excelente Pastel de Nata!

Deixarei de lado a explicação básica ao ministro de como se diferencia um pastel de um frango com piri-piri ou de um plastificado cheeseburger (perguntava ASP o que tinha de diferente um pastel de nata desses dois outros alimentos.Só se nunca provou nenhum deles).

Posto isto, as palavras de ASP soam logo como um equívoco, por quem esteja mais atento ao que se passa no Mundo. O Ministro Álvaro parece não só ter descido ontem do avião, vindo de longos anos no Canadá, como parece ter vivido de forma eremítica na Universidade de Vancouver, sem acesso às notícias de Portugal, apesar de escrever longos livros sobre este seu país.Talvez seja como criar mundos míticos nas obras de ficção científica ou New-Age...

Antes de mais, parece fazer uma confusão entre o mais geral Pastel de Nata, produzido em quase tudo que é padaria ou pastelaria em Portugal, e o mais exclusivo "Pastel de Belém", de receita secreta e existente apenas na famosa pastelaria da zona lisboeta desse nome. Este, como sabemos, tem uma receita familiar restrita a muito poucas pessoas, um pouco ao estilo de juramento que os artesãos da Idade Média faziam. Já o Pastel de Nata tem variantes e graus de excelência país fora, mais ou menos folhado, consoante o fabricante.

Se o Ministro se referia ao Pastel de Belém, então cometeu um acto de apropriação pública de um artigo privado, já que este governo tanto defendem os direitos adquiridos dos privados empreendedores. Nesse caso foi incorrecto, pois não consultou os autores do mesmo nem sondou as suas perspectivas, quase que apoucando o grande sucesso que têm cá, sem precisar de exportar, com constantes fornadas a sair e a serem servidas. E, já que há que desenvolver também o Turismo, vejamos noutro prisma: se o turista americano ou japonês tivesse uma cadeia de pastéis de nata ao virar da esquina na sua cidadezinha, talvez pensasse duas vezes antes de gastar dinheiro a vir a Portugal e encontrar cá exactamente o mesmo que encontra em todo o lado. Mais depressa defenderia eu que levássemos uma boa cadeia de restaurantes de comida Portuguesa a fazer frente à hegemonia desenxabida e coberta a ketchup da comida dos MacDonalds, mundo fora! Para que aprendessem o que é comer bem e viessem cá experimentar ainda maior variedade. Acaso não sonhamos ver um rodeo texano a sério, escalar os Alpes a sério, comer comida mexicana... no México ,etc etc? Interessa exportar, é certo, mas também interessa importar turistas para virem apreciar aquilo que é único em Portugal... mas VINDO ELES cá!

Por outro lado, se se refere (como parece) ao Pastel de nata em geral, então é porque anda muito mal informado e assessorado e deu uma palestra no improviso total naquela conferência. Fique sabendo que há VÁRIAS empresas portuguesas que fabricam, congelam e exportam pastéis de nata (claro que não é o mesmo, mas..) há padarias de portugueses um pouco por todo o mundo que fabricam e divulgam com sucesso o pastel de nata, há poucos anos surgiu, inclusivé, em pleno centro de Londres um café que servia bicas à portuguesa e pastéis de nata que faziam furor, que se tornaram depressa na coqueluche das élites londrinas, incluindo a Madonna, que então aí residia.

Por isso, fique sabendo o ministro Álvaro que não descobriu a "pólvora" das exportações! Fica-lhe bem ser entusiasta e, como ministro, incentivar essas iniciativas, mas não lhe compete borbulhar de ideias fantásticas para os outros, se a forma de levar para a frente essas iniciativas não tiver políticas de apoio por parte do nosso governo! Faz lembrar o que acontecia , há muitos anos, em certos Conselhos Pedagógicos de Escola: um qualquer grupo (agora Departamento) disciplinar dava belas sugestões para outros executarem. Por exemplo, o grupo de Ciências sugeria para actividade de Escola que o grupo e Educação Visual fizesse uns cartazes etc e tal... Estão a ver a bronca e a reacção natural?

Eu bem sei que era uma palestra, por isso num belo estilo de desenvolvimento académico, mas escutar o nosso Alvarito foi mais penoso do que ver um aluno a improvisar um discurso, numa aula de debate e desenvolvimento de ideias (do estilo: "como é que eu faria para melhorar a reciclagem na minha escola?"). E também agasta um pouco quem ouve o estilo um pouco sobranceiro e quase em tom de censura (parece dizer: por que raio é que vocês estúpidos portugueses não se lembraram de uma coisa destas? Não há UM só que tenha feito isto! Se querem investimento externo mexam-se!- Ouçam e reparem no tom!!!). O que era importante era o ministro dizer de que forma tenciona dar apoios concretos, por exemplo de desburocratização, para que os portugueses possam concretizar essa e muitas mais ideias como essa, tanto para exportar, como para desenvolver as economia interna. A ele cabe pensar nessas medidas, a não ser que queira mudar a carreira para a de padeiro. Aos empresários portugueses é que cabe ... empreender!

De realçar ainda: os portugueses que conseguiram exportar produtos portugueses ou dar a provar as iguarias portuguesas lá fora fizeram-no por sua própria conta e risco. Pelo que deu a entender, o tal senhor do "Nando's" vive na África do Sul. Faz parte da economia desse país. Enriquece-se a si e aos países onde se implantou. Os churrasqueiros de Portugal, por seu lado, fazem a sua vida por e aguçam apetite dos portugueses que cá vivem. Antigamente havia as remessas dos emigrantes para Portugal, muitas vezes bem generosas, mas depois de algumas falcatruas às poupanças de anos dos pobres emigrantes (lembro por exemplo o triste caso da Caixa agrícola Açoriana onde gerentes desonestos deixaram sem nada uma série de emigrantes, sendo o caso, como costume, sido arquivado, ou algo semelhante...), os portugueses da diáspora passaram a guardar o seu dinheiro nos países de acolhimento e apenas a virem cá de férias. O ministro Álvaro tem alguma estratégia na manga para inverter essa situação? Para fazer com que invistam EM PORTUGAL o dinheiro que ganham no estrangeiro com os seus "Pastéis de Nata"?

Não concordo com o que fez Alexandre Soares dos Santos, do "J. Martins/Pingo Doce". Foi falta de solidariede para com os portugueses que não podem procurar noutros países da Europa condições melhores e menos "instáveis"para os seus investimentos. Caberia a A. S. Pereira imaginar leis para melhorar o que se passa, que, por exemplo obrigasse os bancos portugueses a ajudar as empresas portuguesas com... o dinheiro da Troika que foi emprestado para todos os portugueses!

Ideias de negócios temos todos,senhor ministro! Porém muitas delas têm de ficar em projecto, pois os entraves de impostos e de papelada são tantos que desanimam até muitos dos mais resistentes. E para exportar há que contar também com o proteccionismo dos países para onde queremos exportar. Mesmo sendo da UE, sabemos que quase todos eles os têm, encapotados de formas mil. Por isso faz mais sucesso o pastel fabricado e feito lá, do que instalar uma espécie de franchising do Pastel de Nata, como ASP sugeria, ou do pastel de bacalhau, ou do arroz de sarrabulho. Desde logo surgiriam os entraves por influência de outras cadeias, surgiriam os rumores de contra-informação: se dizem que os hamburgers da MacDonalds tinham minhocas e dedos humanos... os nossos amarelos e tostados pastéis de nata seriam acusados de conter o quê? E quantos malefícios à saúde fariam, para os fanáticos da macrobiótica? ... Não seria impossível, mas, como franchising... não passariam a ser produzidos pelos locais e a reverter para as economias locais? Será que nos dariam tantas facilidades nos EUA como eles têm cá? Já temos franchisings nacionais de lojas de sopa e de comida tradicional. Exportar isso seria assim tão linear?

Para já, o que temos conseguido "exportar" facilmente, porque infelizmente temos excedentes, é a clientela para tachos, como vimos agora com a "novela" dos cargos da EDP, onde até aos chineses forretas conseguimos impingir produtos de alto valor acrescentado , nas palavras de um deles (Catroga) equivalente a jogadores de futebol como o Cristiano Ronaldo. São produtos bem pagos, multidisciplinares como o canivete suíço, e com larga capacidade para acumularem muitos salários ao mesmo tempo. Temos portanto o MacCatroga, a MacCardona (soa até bem, não?), o Kentuky Fried Pinto, o Braga King de Macedo. Tudo bem acompanhado de molhos especiais Light ou Spicy.

Afinal ,talvez Álvaro Starbucks Pereira tenha razão! Pensando bem, bastará muita força de vontade, uma boa ideia dos nossos teóricos ou práticos que cá preferem encher os bolsos com trabalho quase escravo de uns(para depois investirem fora; não me refiro ao ministro Álvaro, mas a certos milionários trabalhadores da nossa pátria, que também exportam as suas sedes) e muitos ovos de galinhas... espanholas.

Em frente pela ideia inédita do Ministro Álvaro! Uma ideia que parecia "empastelada" mas... Se afinal até já conseguimos exportar... MagNatas, basta uma simples letra (e muita "letra" à moda do Álvaro) para exportarmos o ... MacNata! :))

Cadeia de franchising "MacNata"... "me aguarde"!

"Alergia" (12-1-2012, in Blog "Alegrias e Alergias")

4 comentários:

  1. Respostas
    1. À vontade, caro António! :)
      Catrapilhar para...(?) (blogue?...)
      Apareça sempre!

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  2. Essa da pastelaria de Belém ter o segredo dos tais pastéis é uma treta a qual já ninguém engole. Se a patroa em casa fizer um pão de ló com sabor a limão (porque o molho do dito citrino escorregou sem-querer para dentro da forma) vou rapidamente ao ministério da indústria registar a patente do "Pão-de-Ló da Treta". Mais, em frente à dita pastelaria, existe uma outra em que os pastéis lá confeccionados (quanto a mim) são melhores que os "originais" e não deixam de ser pastéis de Belém.

    Este Álvaro é, talvez, o pior ministro de sempre, segundado pelo periquito do Santana Lopes.

    Mal sabe ele, coitado, que os chinocas já exportam material desse à bastante tempo, (o que é que os ditos não fabricam), em Londres já se produzem pastéis de nata há mais de uma década. Portanto, a "boca" proferida pelo mais "nabo" ministro deste executivo é a forma de desviar atenções do mal que o mesmo nos tem feito.

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    1. Acredito, Ferroadas! Mas nisto é como tudo, as patentes , as espertezas e coisa e tal...
      Da próxima vez que for à capital, hei-de ir provar desses pastéis concorrentes, querido amigo!
      Quanto mais não seja como pesquisa de mercado para a internacionalização do nosso MacNata! :)
      Há que seguir a inspiração e originalidade do nosso Álvarito! E tens razão: este ministro é de antologia, embora até me pareça uma pessoa simpática .E, confesso, na alhada em que o meteram, um presente envenenado, este super-ministério, até chego a ter (quase) pena dele. Sempre é mais digno de solidariedade do que o seu antecessor, outra anedota para a antologia, o Pinho dos "corninhos".
      E ainda temos aqueles outros, como o braço direito do gov. Santana Lopes, o Gomes da Silva que ajuizadamente rumou para as guerras dos futebóis. E, claro, sem NUNCA Jamais esquecer, o ministro JAMÉ das obras públicas e as arrepiantes MLR e Alçada da Educação. A primeira, não só má governante, mas já na linha do Registo criminal. pelo rápido desmantelar da Educação Portuguesa que levou a cabo, a golpes de picareta e ritmo de bulldozer( Foi a pior, não só pelo que não soube fazer, como pelo de que mal fez e pelas pessoas que trucidou!).
      Beijinhos, Ferroadas! :)

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