O tempo parece voar. Mas sim, já foi há um ano. Há um ano que decorreu uma das maiores demonstrações de prepotência dos nosso governantes e do estreitecer da Democracia e da liberdade em Portugal.
Para demonstrarem força, num país desacreditado perante os seus pares, o senhor Sócrates e o seu governo, com a assinatura de cruz do senhor Cavaco, encheram as ruas do centro de Lisboa de blindados e de polícias de choque, totalmente equipados para uma guerra, e assim rechear o olho ao senhores da NATO, que faziam uma cimeira, nesse dia 20 de Novembro de 2010, a uns bons quilómetros, na zona da Expo, para"decidir" o que já estava decidido, nomeadamente a mudança dos estatutos tradicionais dessa Aliança, dando-lhe plenos poderes para muita coisa, tal como a intervenção em zonas fronteiriças e em países em crise (catástrofes naturais, problemas climáticos, excesso de imigração "indesejável"...) sem terem de pedir muita unanimidade mundial e muito menos respeitando a soberania dos países.
E quem se preparavam os bravos polícias e suas dezenas de carros blindados para combater, na descida do Marquês ao Rossio? Perigosos terroristas?Não. Populações em fúria e armadas? Muito menos. Perigosos (e míticos, quais gambozinos) black-blocks infiltrados numa manifestação pacífica contra a guerra? Ninguém os viu...
Nada disso, cerca de 300 desse polícias tiveram ordem para cercar uns 100 dos manifestantes (bela proporção, portanto, de 3 por 1 ), enxotados para a cauda da manisfestação onde alguns se julgavam donos (a CGTP, o que foi uma atitude lamentável!), só porque muitos esses 100 eram jovens, tinham "rastas" e tocavam chocalhos e batuques e se haviam organizado em Liberdade com cartazes e narizes de palhaços para desfilar, informando apenas o Governo Civil e não pedindo licença aos ditos "donos" da mesma...Os restantes eram cidadãos também comuns, muitos pais e mães de família e até pessoas "de idade".
Os polícias cercaram esse grupo, perante os apupos populares por inicialmente os não quererem deixar desfilar, formando uma verdadeira muralha humana, onde deixavam entra mas não sair.É preciso que isto seja relatado, denunciado sempre e repetido. Ao contrário do alarme de alguns repórteres que ficaram de fora do cerco, não houve uma única pedra ou garrafa arremessada, não houve qualquer violência da parte dos cercados, só palavras de ordem, cantos e batuques. Os jornalistas que ficaram dentro assim o puderam testemunhar, embora ao regressarem às suas redacções fossem nitidamente coibidos de o revelar abertamente. As fotos de caras crispadas que foram publicadas nos jornais, foram as únicas de momentos um pouco mais tensos, mostrando polícias (dos de boné) a empurrar à bruta alguns manifestantes, e estes a queixar-se, mostrando algumas caras crispadas de mulheres que queriam sair do cerco para ir à casa de banho ou buscar água. Nada mais!
Tentaram sublinhar nas notícias que no final havia o perigo de os "perigosos" manifestantes se dirigirem à sede de Re-candidatura de Cavaco, mas só pelos jornais estes se aperceberam da existência dessa sede! Uma anedota ridícula a que os nossos OCS nos podiam ter poupado!
Ainda parece que foi ontem, numa situação na qual jamais pensara ver-me envolvida. Uma manifestação pacifista subitamente transformada em cerco militar, cerco onde, como já disse, se podia entrar, mas de onde não se podia sair (o que levou muitos espectadores do desfile ,de fora, indignados, a entrar, em solidariedade e assim triplicar o número dos cercados) sendo até os repórteres que estavam cercados empurrados para dentro deste "Ghetto", sempre que pretendiam um melhor ângulo para as suas fotos.
Sou ainda capaz de ver aqueles polícias que cruzavam os bastões, para fechar o cerco sentir o cheiro a couro novo das botas, das luvas e das ombreiras engraxadas, de ver o brilho dos seus capacetes imaculados, ver as suas armas à cintura, as algemas, as ameaçadoras latas de gases perigosos visivelmente ostentadas à cintura e até sentir o nervosismo e calor que pareciam ter por baixo de tanto equipamento normalmente não fornecido ao polícia "comum" que guarda as populações. Dava para reparar na extrema juventude de alguns e como estavam mais ansiosos que nós para verem passada essa situação, embora fazendo grande esforço para não revelarem emoções.
Nunca pensei ver isso de perto, no meu país de recente Liberdade, pouco mais velha que muitos daqueles polícias. Uma manifestação pacífica e extremamente civilizada de cidadãos de uma democracia, transformada numa demonstração patética de força, para mostrar ao povo o que pode acontecer, em caso de "convulsão social"! Uma prisão temporária e ilegal, sem direito à satisfação básica até das necessidades fisiológicas, sendo a ordem de "encarceramento" um nítido abuso de poder, ralegando uma eventual "prevenção" de "violência" vinda de pessoas que, muitas delas nem carne comem com receio de magoarem animais e que só queriam exercer o seu direito de participação no país e no mundo, esses jovens que tanto são acusados de viverem alienados das realidades!
Deixo aqui (acima) a melhor reportagem que está na Net, uma reportagem "amadora" que faz corar as dos ditos profissionais televisivos (censurados) , pois é de quem viveu por dentro a situação e que melhor testemunha o verdadeiro ambiente, apesar de tudo alegre (pois pleno de consciências tranquilas), que aí foi vivido.
E por aqui me fico. Para mais já abordara este tema, há um ano:
- Aqui - Anedotas da Cimeira I
- E aqui- Anedotas da Cimeira II
- E ainda o que postei aqui: Testemunho de Raquel Freire
(tudo no defunto "Uma Aventura Sinistra")
"Alergia" (21-11-2011)
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