(Camané "Sei de um rio"- 2008)
Pouco a acrescentar ao grande entusiasmo que reina hoje por Portugal e não só, pela declaração, pela UNESCO, do Fado como Património Imaterial da Humanidade.
Da parte que me toca, talvez por não ser lisboeta, não cresci numa cultura de fadistas (só de tristes "fados"...). Em crianças, eu e os meus irmãos parodiávamos, até, a pose dos fadistas, nas nossas brincadeiras, com os seus xailes, os seus olhos fechados e as suas nucas lançadas para trás. Os meus pais cantarolavam bastante, mas eram temas de filmes ou romantismos brasileiros. Achávamos piada ao estilo da Hermínia Silva e seus àpartes, respeitávamos Amália e Carlos do Carmo.
Mas não era entender e sentir o Fado.
Depois crescemos.
Passei a apreciar o Fado dos estudantes de Coimbra, principalmente nas vozes de Luis Góis, Adriano Correia de Oliveira e José Afonso.
Já o fado lisboeta continuava... quase como aquela paixão alfacinha por comer caracóis: um mistério!
Levaram-me a casas de fados, escutei e respeitei. Porém não o conseguia viver por dentro, à parte alguma letra/poema mais bonito, o apreciar o som da guitarra.
Lá se vai envelhecendo e aprendendo com a vida, no entanto. E veio uma nova geração de fadistas e de autores de fados que refrescaram o género musical. E uma melancolia suavemente instalada começou a rimar com alguns fados, algumas vozes que os traduzem aos nossos ouvidos.
Um exemplo é Camané. Nem quem não entenda Português pode negar a limpidez desta voz, a beleza deste fado.
Que esta distinção da UNESCO sirva para ajudar a conservar o que já foi feito neste mundo do Fado , como a manutenção e pesquisa dos seus arquivos (lembro, por exemplo, o ressuscitar daquele fado de Amália, censurado pela Pide, de nome "O Medo", outro dos poucos que aprecio muito) ou o incentivo aos novos valores.
Que esta distinção da UNESCO sirva para ajudar a conservar o que já foi feito neste mundo do Fado , como a manutenção e pesquisa dos seus arquivos (lembro, por exemplo, o ressuscitar daquele fado de Amália, censurado pela Pide, de nome "O Medo", outro dos poucos que aprecio muito) ou o incentivo aos novos valores.
Por outro lado espero que não dê para aquelas reacções exageradas de extremos em que somos especialistas em Portugal, de termos agora uns largos meses a transmitir apenas fados e entrevistas a fadistas, de pôr os alunos das escolas a cantar fados, a estudar letras de fados, a fazer fantasias de fadistas e a construir casas de fados com fósforos, a levar as Joanas Vasconcelos do país a imaginar exposições de guitarras portuguesas gigantes feitas com colheres de pau ou com caricas... ou seja, a levar as pessoas a começar a "vomitar" fado pelas orelhas de forma a acabar por fazer uma campanha contraproducente que em pouco tempo ponha Portugal a dizer: "Oh! Outra vez Fado? Nããão!" :)))
(O outro exemplo que me faz temer isso foi a febre pessoana aquando do centenário do nascimento de Fernando Pessoa! Falava-se de tudo do Poeta, desde a pose do chapéu às sus contas de lavandaria, mas esquecendo o abrir as sensibilidades para entender os seus poemas! O que valeu foi a intemporalidade e grandeza da sua poesia, que sobreviveu a essa "torrente"!)
Ah! E já aprendi a apreciar, ou mais ou menos, um ou outro pratinho de caracóis! :))
Sem comentários:
Enviar um comentário