segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

É arrecadar a triplicar! :(

(Al Capone, gangster de Chicago, EUA, nos anos 30 do séc.º XX)

Não conseguirei precisar bem por que razão me surge esta imagem de Al Capone à ideia, a propósito da duplicação e triplicação das taxas moderadoras nos Hospitais Públicos, SAP e Centros de Saúde portugueses.

Será a ultra-violência da medida, especialmente para a Classe Média, eterna vítima deste tipo de "metralhadas? Será o modo subreptício como estas medidas vão saindo à baila, para depois a decisão final sair de forma abrupta, não negociada e ainda mais pesada do que se havia debatido nos OCSocial? Será a sensação de estarmos a ser mais uma vez roubados de forma agressiva, assaltados e deixados ao desamparo? Será um certo esgar e trejeito de boca habituada a charuto e olhar de soslaio que muitas vezes asociamos ao "mafioso" típico, que nos recorda alguém que tem voz mansa mas que é impiedoso nos ataques, como era o caso de Al Capone?

Será tudo isso junto?

Uma diferença há: no tempo da "lei Seca" nos EUA, quando Capone aumentou a sua fama e acção criminosa, a sua técnica e a dos restantes "gangsters" consistia em chantagear os lojistas, cobrando "Taxas" coercivas ao grupo (percentagens dos lucros, até) em troca de "protecção" contra o banditismo. Claro que os bandidos que atacariam, em caso de não pagamento, seriam os membros do próprio grupo protector. Recentemente tivemos casos desse tipo de chantagem em Portugal, por exemplo no caso das "Noites Brancas" no Porto, em relação a bares e "boites" de divertimento nocturno. Mas , apesar de tudo, Al Capone e os outros gangsters "davam" um serviço em troca: a tal "proteccção" aos seus "sócios" forçados. Já no caso das novas Taxas moderadoras da Saúde, o aumento e o dinheiro "sacado", ou, como se diz agora, "arrecadado"não corresponderá a um aumento da qualidade de serviço, a algo A MAIS que se dá em troca.

Os governantes bem podem alegar que aumentará o número de pessoas isentas, mas a constantemente martirizada classe média , a que terá de pagar essas Taxas, nada terá a "protegê-la".

Desta forma, os objectivos, a meu ver são dois, mas nenhum deles será o anunciado desejo de MODERAR a corrida às "falsas" urgências. O primeiro motivo será, como é óbvio, arrecadar mais uns milhões de Euros à custa dos mesmos e à custa dos rendimentos do trabalho de quem já desconta bem em impostos para que haja um bom Serviço Nacional de Saúde.(SNS) O segundo motivo, a chamada agenda escondida, será levar as pessoas a fazer as contas, ver que fica mais barato ir às urgências dos Hospitais PRIVADOS (por exemplo, até agora, tinham taxas moderadoras de pouco mais de 3 Euros, enquanto as dos CS públicos eram de 2,25 Euros). Em consequência, os serviços públicos ficarão um pouco aliviados, em princípio (pois decerto que depois serão afastados dos sistema mais alguns profissionais da Saúde, através da desmotivação e más condições de trabalho... para arrecadar mais milhões, é claro!), mas o SNS ficará muito desvalorizado e será cada vez menor o investimento do PIB nesse sector (mais milhõezinhos para os mercados), acabando por gradualmente se degradar, desprestigiar até ficar reduzido a um serviço de Misericórdia para os pobrezinhos, lugares onde possam ir morrer e fazer curativos às chagas. Retrocederemos, portanto, não dois séculos apenas, mas até ao tempo da caridosa Dona Leonor, no séc. XVI. Tirando o facto de ter menos dinheiro investido nos hospitais do que nesse tempo áureo da nossa História.

Não duvidem: estas medidas pretendem sobretudo desmantelar e desinvestir e no Serviço público, seguindo anacronicamente o exemplo funesto de Margaret Thatcher no Reino Unido, há umas décadas, que empurrou milhões para a miséria e para viver nas ruas. O tal "inevitável" rumo para o empobrecimento preconizado pelo nosso PM de tom sério , em feroz e insensível defesa dos ideais do neoliberalismo, com as políticas de "corta gorduras" (expressão até já em desuso em França e outros países que antes tinham experimentado essa via) mas as gorduras do músculo das populações. O apoio às negociatas privadas dos bens essenciais da população, ainda naquela fé quase cega (e já vista como ineficaz, na crise do Sub-prime em 2008 ) de que o Sistema se auto-regula, libertando o papel do Estado não se sabe afinal para quê (para que é que fica "livre" o Estado, se perde o papel para o qual foi criado ao longo de gerações?).

Não exagero, pois ainda hoje surge também a notícia de que os já protegidos Bancos, muitos deles co-autores desta Crise, vão ver os seus impostos AINDA MAIS REDUZIDOS, E POR 20 ANOS, os coitadinhos,para compensar a generosa oferta ao Estado dos fundos de pensões de reforma dos seus funcionários (e com ele o transferir das responsabilidades, uh , uh...!). E é isto dividir os sacrifícios por todos?! Bem se estava a ver que lá viriam à baila as restantes contrapartidas desse negócio ruinoso com a Banca!

E vem agora dizer o nosso PM PPC, na sua bela voz de barítono, que até foram moderados nos aumentos, pois ainda não atingem o "plafond" do que poderiam cobrar(Ver aqui também, no "Expresso"), segundo as normas do Tribunal Constitucional. Lá está, a velada ameaçazinha a quem se queixar no país. Por isso não se admirem pela foto que aqui coloco. Desculpem, mas é como se sente quem é mais uma vez "assaltada" com estas notícias e já não tem idade ou saúde para emigrar... Não concordam que, no fundo, só falta um pouco mais, talvez as metralhadoras e o charuto, a estes rostos todos, do PM, do ministro da pasta, dos comentadores favoráveis a estas medidas inconstitucionais, ou do próprio TC "colaboracionista", que se sintetizam na imagem que nos vem à mente, depois de mais este ataque aos bolsos?

"Alergia"(12-12-2011)

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