sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Sincero Líder É Vida e Sol! (Um Louco Pós-Natal 1)

Como prometi, nos vários posts onde comentei a já antológica sugestão de Emigração pelo nosso PM (1-AQUI, sobre o que continha de pornográfica mensagem de Natal,2- ACOLÁ, sobre a famosa Sinceridade atribuída por muitos a PPC; e 3-ACOLI, sobre o que essa mensagem teve de gasoso/tóxico e explosivo) , ainda vou publicar mais uns tantos sobre a questão, como disse, muito sintomática e sumarenta. Como o Natal já passou, irei intitulá-los não "Um Louco PRÉ-Natal", mas "Um Louco PÓS-Natal".

Este é especialmente dedicado aos aduladores do Novo Líder, neste caso, Pedro Passos Coelho, e que acorreram em sua blogosférica ou jornalística defesa.

Temos sem dúvida tendência para o Sebastianismo, incensando cada novo chefe que chega ao poder, como "Salvador" perfeito e absoluto. E esse tem sido um dos nossos grandes males, em Portugal, precisamente desde Alcácer -Quibir, onde a grandeza do salvador não derivava das suas próprias qualidades, mas da ânsia de algo melhor(olhem se D. Sebastião foi, quando vivo, assim tão amado? Tenho a impressão que,se não tivesse morrido naquela batalha, acabaria por não durar muito, com algum venenozito ou outra doença misteriosa, de tal forma o relatam como arrogante, megalómano e perdulário do erário...), conjugada com a apatia em que o nosso povo passou a cair(nem parecia o mesmo que lutara e pusera no trono o Mestre de Avis), deixando de ter iniciativa própria e esperando algo de exterior e absoluto que lhe troxesse a mudança. Não era Salvador por ser bom rei, mas por se esperar um bom rei do seu sonhado regresso, ou pelo menos MELHORZITO do que o ANTERIOR que oprimia ( neste caso os que lhe sucederam,os Filipes de Espanha).

E assim foi em eras subsequentes. Cada Rei e cada Primeiro-ministro era visto como factor de alívio em relação à governança perniciosa do anterior. Basta ver no último século: a República "salvava-nos" da pérfida Monarquia, a segunda República vinha pôr na ordem o caos da primeira, Salazar era o santo salvador (S.=Salvador=Salazar), frugal e patriota, a Democracia de 1974 traria tudo de melhor, como por milagre, o comando Europeu pela CEE seria salvador do isolacionismo e da pobreza, Cavaco trazia o "púgresso", cavalgando até ao congresso da Figueira da Foz, pelo nevoeiro, no seu carro novo e reluzente, Guterres, com bonomia, trazia a salvação do alívio à opressão do Cavaquistão, and so on... até chegar Sócrates, o salvador esperado como mais sério governante do que Santana Lopes, PM considerado de opereta. E Portugal teve de novo a paga por uma maioria se ter iludido com esse novo salvador, animal feroz e determinado, que tratou logo de modelar, também, as estruturas do Estado às medidas dos seus boys e do aparelho do PS (Partido de Sócrates, é claro, o Salvador "S.").

Para se sair de seis longos anos de cativeiro e de ainda maior endividamento e de ditadura partidocrática, surgiu então, por entre as nuvens baixas que se avolumavam no país, batendo a pestana no olho verde e entoando cantos operáticos de salvação à Wagner, Passos Coelho, em passos largos neoliberais, sendo , para quem mais uma vez via nele um novo guru perfeito, "D. Pedro, o Sincero".

O anterior, vilão e ditador era Mentiroso e aldrabão (todos verificámos). Ao lado dele, tudo o que sai da boca de PPC, dos discursos aos cânticos natalícios, soa a Sinceridade, a Verdade pura. Não se sabe então como classificar a imediata quebra de promessas eleitorais. Decerto que não cabe dentro da definição de mentiras... Ah, pois... ele prometera, mas depois surgira o tal "buraco Colossal", que obrigara a falhar as promessas de não aumentar ainda mais os impostos ou de cortar salários e subsídios (e não é que hoje o espanhol Rajoy já descobriu também"desvios" colossais às contas, tendo que criar novas medidas de austeridade? Here we go again!!!....)
Depressa esquecemos que, antes de PPC, já D. Sócrates se queixara da "pesada herança", e antes dele D. Guterres do "pântano", fugindo para os refugiados em planícies africanas, e D. Durão da tanga que havia herdado e que o levou a fugir para se poder agasalhar nas roupas de marca vendidas na Avenue Louise, em Bruxelas.

Por seu lado D. Gaspar, seu fiel braço direito, era como um Marquês de Pombal sem peruca, implacável nas medidas, um vislumbre ressuscitado de Salazar, aquando ministro das Finanças , para quem passa a vida a chorar de saudades do tempo do "Botas", turvando nos cérebros amnésicos tudo o que de terrível teve depois a sua ditadura.

E eis que temos alguns exemplos mais palpáveis, do lado dos arautos dos jornais que têm responsabilidades fortes no construir de opiniões. Dou como mero exemplo uma das mais recentes crónicas de José Manuel Fernandes (JMF) no Público, que veio ironizar (mais uma vez escamoteando parte do que disse PPC e atribuindo o conselho da Emigração apenas para professores) com os docentes, alegando que não pensassem esses que o Estado era obrigado a "dar-lhes um empregozinho", etc e et -tal! Ou seja, mal o novo Salvador ganhou as eleições, JMF, exaurido como nós todos pelos anos de socretinice, veio tomar as dores do Líder, esquecendo de novo o seu sentido imparcial e crítico e tendo passado a ser dos mais ferozes arautos do neoliberalismo, fazendo Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite parecerem ferozes marxistas ou humanas Madres Teresas de Calcutá!
Outro exemplo, mas pelo lado do absolutamente ridículo, que estive há muito para comentar, mas cujo editorial até recortei e guardei, pelo que mostrará para a posteridade de antológico, no seguidismo dos Líderes. Falo do editorial do jornal "i", de 5 de Dezembro, assinado pelo seu Director(?!) António Ribeiro Ferreira, se bem se lembram o mesmo que ofereceu bolachinhas e "incenso" à ME Maria de Lurdes, estão então perfeitamente fascinado pelas decisões "corajosas" da mesma e do seu Líder salvador " D. Sócrates, o Determinado". Mais tarde foi dos que tentou começar a abandonar o barco do seguidismo, para agora embarcar no navio Titanic de Pedro e Gaspar. O perpicaz Kaos já analisou a dita crónica,logo no mesmo dia dessa edição do "i", num dos seus esmagadores posts (wehavekaosinthegarden.blogspot.com, escusado seria dizer...), mas deixo aqui algumas das frases de idolatria a S. Gaspar, pra quem tenha estado distraído.

O título é uma frase dita por V. Gaspar em conselho de ministros, para criar o mito(e ARF diz mesmo"reza a lenda"):

"Não há dinheiro. Qual destas três palavras não percebeu?"

(ora bem, deixa cá ver: Não= o homem é determinado, Ena! Temos chefe!!!; há= viu o estado da nação e contabilizou tudo, deve ser sério!; "dinheiro"=aquilo que existe para BPNs sem fundo, PPP, IPs e Observatórios que não fecham, apesar de anúncios sucessivos.. hum.. como é..?!)

Depois ARF relata a "lenda", à qual só faltam as rosas a cair do regaço (imaginemos Santa Isabel a dizer a D. Dinis: " Qual destas palavras não percebeu, Dinis?! Não Há dinheiro! O que trago são rosas, digo, Laranjas, senhor!").

E remata ARF a sua prosa com uma série de frases ao estilo do Livro do Eclesiastes (vide canção dos Birds), aquele de : "há um tempo para semear e outro para colher...". Vejam só a horripilante amostra (o texto é maior):

- "Agora é preciso calar e cumprir rigorosamente o que está estabelecido com a troika"

-Agora é preciso dar graças a Deus sempre que a troika desbloqueia mais uma tranche.(...)

-Agora é tempo de unidade Nacional " (ver mais abaixo o que contradiz isto)

- "Agora é tempo de andar DE BICO CALADO e não fazer muitas ondas." (sic!)

-"Agora é tempo de esperar que a Alemanha consiga encontrar soluções(...)(olhem, outra Sebastiana!)

- Agora é tempo de acabar com direitos adquiridos(...) (sic!!!)

-Agora é tempo de acabar com utopias e ilusões soberanias e INDEPENDÊNCIAS" (lá está a tal contradição!)

-Agora não é tempo para o exercício de democracias directas ou indirectas(...) hesitações ou referendos (...) (sic!! Acabe-se a democracia?! Qualquer que seja?!)

E termina :
"Se Vitor Gaspar tem razão quando diz que "não há dinheiro", não é menos verdade que Portugal não tem tempo a perder com formalismos próprios de gente rica. A ordem está falida e os frades famintos".

Que lindo! Os "frades famintos "devem ser os ... credores? E quem levou a "ordem" à falência? Não foram os "abades" e as "madres superioras"? ARF parte então da garantia de que VG está necessariamente a dizer a pura verdade ( mas não nega dinheiro aos bancos, só para dar um exemplo!) e que coisas reles, como a democracia, a soberania, os direitos... são PERDA DE TEMPO, "formalismos" de "gente rica"! Ou seja: se somos pobres,logo, temos de viver em ditadura, renunciar aos direitos conquistados com dificuldade, deixarmos de ser um povo soberano! SIM! ARF (arf arf..?) até renega a democracia e a liberdade de expressão (bico caladinho!!!...pois...), pelo que ficamos sem saber o que está a fazer na sua profissão e muito menos a dirigir um jornal! E renuncia à independência Nacional!Que diriam D. Afonso Henriques , o Mestre de Avis e D. João IV a isto?

Tenho observado nestas semanas o que se passa na Rússia e na Coreia do Norte. No dia das manifestações por todo o país, 10 de Dezembro passado, o Pudim russo mandou colocar em todas as praças altifalantes a repetir sem fim frases como: "Putin é a Vida, Putin é Luz! (sic!!!) (qual Cristo Salvador), encheu a blogosfera local com seus defensores, bloqueando as caixas de comentários de todas as vozes dissidentes do regime. Mandou que à hora da manifestação todos os alunos russos fossem obrigatoriamente a seminários nas suas Escolas, sobre um tema que já não recordo.

Por outro lado, aquando da recente morte do "Grande Kim" coreano, até a Natureza se manifestou de pesar pela grande perda nacional: dizem que o gelo do lago da sua terra natal se quebrou de tristeza, que uma ave parecida com uma pomba limpou a neve numa estátua do líder, que outras pombas fizeram o luto do "querido líder", a "chorar durante meia hora", nos ramos de um pessegueiro.

Sugiro portanto aos meninos prendados que defendem os novos líderes de Portugal, vendo tudo perfeito nas suas acções (e eu sou de opinião que há que criticar o que está mal mas louvar o que está certo, mas mantendo o espírito livre!): Já começaram as louvaminhas na blogosfera. Agora atribuam-lhe os epítetos semelhantes ao da "Monarquia" coreana ou russo-putinica: Kim-Jong -il era o "Querido Líder" (tal como Sócrates, "tão jeitoso"!) Agora o jovem Kim Jong-un é já o "general respeitado"(nunca foi militar!), "grande sucessor" e "Lider espantoso". Sugiro portanto que incensem PPC como "O Grande sucessor Sincero", ou o "Desengordurante espantoso" ( para já, publicidade enganosa!) e Gaspar como o "general liquidatário respeitado".

E, claro, que encham as praças do país com altifalantes a gritar: Coelho é Luz! Coelho é Vida!

Enquanto isso, soltem pássaros negros, melros ou corvos, ou até abutres, que chorem e chorem e chorem, não pela partida pelo "Grande Líder Malabarista" anterior, mas pelo fenecer das nossas escassas poupanças e da nossa querida Democracia! :(

"Alergia" (30-12-2011, in blogue "Alegrias e alergias")

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