quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Salvar o Património em "2 em 1"...


 ("Linha do Tua, património por classificar" 2008- om música portuguesa variada: S. Legião,  A Naifa..)

Mais tarde ou mais cedo, a questão da manutenção do Douro como Património Mundial iria dar polémica, apesar de já classificado pela Unesco. Mas isso não  aconteceu pelas razões que me levavam  a temer tal humilhação para o nosso País.
Em Portugal tratam-se este tipo de situações um bocado como certos alunos tratam os exames. Decora-se tudo muito  bem  na véspera, fazem-se trabalhos muito lindos com imagens a 4 cores,entrega-se o trabalho, ou "despeja-se" (é mesmo a gíria estudantil) a matéria no exame  e está "feita a coisa". Resta esperar a classificação. E quase tudo é para esquecer,depois, em vez de ser para aprender.
Da mesma forma com estas candidaturas: convocam-se os pareceres dos melhores especialistas, fotografa-se e documenta-se tudo, argumenta-se brilhantemente, faz-se o volumoso "dossier"  em papel de luxo e espera-se.
Como normalmente o "alvo" da candidatura é mais que merecido e está a precisar de ser salvo das garras da Humanidade, lá vem a classificação de Património da mesma, há regozijo, aplauso e... que tudo surja em seguida por obra e graça dos mais esforçados dos seus defensores, sem grande estratégia nacional. Como em tanta outra coisa, sem uma Visão Global e integrada do problema agora em mãos.
  De seguida há muitas reportagens mais ou menos ofegantes no local, todos ficam a conhecer televisivamente os melhores recantos daquele tesouro nacional(veja-se agora a febre do fado, como eu  em receava, AQUI ... eu não dizia?!), os particulares mais vivaços publicam em livro um sem número de fotografias recentes e antigas daquele lugar paradisíaco, de preferência por altura do mais perdulário Natal, ficamos a conhecer em várias poses as personagens castiças do local, desde a vendedeira de figos ou de mantas ao velho pastor e ao seu cão, passando pelo "Emplastro" da aldeia mais típica e fica todo o país muito orgulhoso.
Numa segunda fase, começa a poeira a assentar e um ou outro grupo de mais endinheirados , também vivaços, tentam criar uns estabelecimentos hoteleiros e atracções turísticas extra. Começam a surgir os disparates: um parque aquático numa bela encosta, um hotel que, em vez de representar a riqueza arquitéctónica da região, usa apenas os seus "materiais nobres", cobra preços proibitivos (para ser selectivo, claro, nada de populaças! Nem de "emplastros" ou vendedeiras) e que ilumina tudo a tons de sépia escura, de forma a não deixar o turista ler, que  o que deve é comer e beber(e , se calhar, não conseguir ler o preçário...).
Enquanto isso, os promotores da ideia, ou pelo menos os que restam nos organismos, tentam organizar tudo para que não caia no descalabro, proibindo o que conseguem quanto aos estragos paisagísticos, tentando criar normas que levem para a frente o local homenageado, para que não se desvirtue a sua essência. Batem muitas vezes com o nariz em muitos entraves, que incluem os exageros turísticos de quem antes  entregara a zona ao esquecimento, mas que agora... se está sempre "a lembrar", com novos projectos mirabolantes prontos a descaracterizar a zona.
No caso do Douro Património Mundial da Humanidade, valham alguns organismos e seus paladinos e o bom senso também de muitos dos vitivinicultores que sempre souberam a maravilha que ali se "escondia" ao Mundo, mantendo as tradições paisagísticas e culturais na parte que lhes toca.
Por outro lado, ainda,o  que era fundamental e até obrigatório fazer, segundo a Unesco, seria um "Plano de  Gestão da Região", que como também é tradicional por cá, já existia no papel, mas ainda não estava a ser aplicado.
Porém, com tudo o que falha e tudo o que ajuda a manter a qualidade e genuinidade desse Património, há um pequeno pormenor que ninguém pode precaver: os governos centrais do País e os caprichos dos seus líderes. Desta vez,como em tanta outra desgraça,  o algoz foi o Governo de Sócrates, com a sua "paixão" magalhanesca pela tecnologia e pela palavra "moderno", que para o seu PM significava tudo o que se ligasse à corrente e tivesse luzinhas a piscar, desde os defuntos pc "magalhães" aos quadros interactivos,  passando pelos carros eléctricos particulares e por aquelas empresas de bombas térmicas a fingir de fotovoltaicas. Tudo o que implicasse vestir de vez em quando uma fatiota azul, um capacete e uns óculos de protecção, ao visitar  uma empresa , "moderna" está claro, de onde saia satisfeito a dizer "porreiro, pá!" e clamar novos postos de trabalho (em princípio, até à deslocalização seguinte) e um amanhã glorioso perante os microfones dos O.C Social.
Portanto, neste caso não foi o seu sucessor, PPCoelho, a errar. Foi o Governo de Sócrates que deu luz verde ao projecto da barragem do Tua, zona vizinha do  Alto Douro vinhateiro(galardoado como Património Mundial), em troca de uns insignificantes Gigawatts. Destruindo a linha histórica  de comboio do Tua , incomparável no Mundo, e,  com a  construção da barragem, destruindo uma paisagem que infelizmente nunca vi em directo, mas que  quem viu diz ser inesquecível e de cortar a respiração.
Deixo aqui um video feito aquando da reabertura da linha do Tua, já em automotora moderna, em 2008, que permite espreitar um pouco essa beleza. Mais tarde deram-se os misteriosos descarrilamentos, por falta de manutença ou outra razão, o encerrar da linha que tanta gente servia e o desmantelar da mesma, por sucateiros de autorização duvidosa (mas isso já são casos de tribunal).
Hoje surgiu então esta notícia como uma "bomba" para o nosso brio português:
"Barragem do Tua põe em risco Património Mundial no Douro" (Público, 7-12-2011)
 Agora,  o que é irónico é que a classificação do Douro, ou a sua Desclassificação está em causa,mas  não por certas asneiras feitas no local, pela voragem do lucro ou da estupidez; e a continuação da construção da barragem do Tua está em Xeque, mas não devido (directamente, pelo menos) aos continuados protestos dos Ambientalistas e milhares de portugueses contra esse crime.
Quem vem por em causa a manutenção da Classificação do Douro é a própria Unesco, pela mão dos seus peritos, chamados para a avaliação regular da situação. E são eles e o seu parecer que deixam nas mãos do novo  governo a sensatez que será parar a construção da barragem.
  Explicando: embora o vale do rio Tua não pertença já à área classificada pela Unesco (aliás, mereceria a sua própria candidatura!), é bem visível das encostas do Douro, estragando o conjunto paisagístico!
Assim: se a barragem for para a frente, podemos perder um importantíssimo trunfo turístico Nacional. E em vez de ser destruido "apenas" um tesouro ambiental e paisagístico são destruídos DOIS!
Portanto, Sr. PM, Srª Ministra Cristas e senhor ministro Álvaro, não há que hesitar! Tenham rasgo, bom senso e ajam como jovens  ousados que (ainda) são! E como verdadeiramente "modernos" como devem ser. Pare-se a obra no Tua e salve-se e reabilite-se o que se pode, num país onde um dos maiores coletes de salvação é o Turismo.  Onde um dos maiores tesouros irrepetíveis e únicos é a beleza natural. Sr. ministro: aquilo é tão belo que... "nem parece Português"! Ainda é mais belo que o Canadá, atrevo-me a dizer!
E optem também por não ficarem amarrados a mais esta asneira da precipitação "determinada" do governo anterior. Já basta a dívida pública que então inchou!
Façam o que é boa política e boa escolha. Qual Souto Moura a  tentar disfarçar o impacto paisagístico da obra, qual quê! Vai ficar-nos tudo muito mais caro, a curto, médio e longo prazos.
Há teorias que já de si são discutíveis, mas no que respeita ao nosso Planeta Azul não se aplicam.A Natureza, depois de  destruída e empobrecida, não se revigora como  Fénix das cinzas. Quando isso aconteceu foi quando o Homem desapareceu do Horizonte.
Senhora ministra do Ambiente, salve o Tua! E, ao fazê-lo, vai ser então como certos champôs "2 em 1": salva o Tua... e o Douro também! E ainda poupa! Poupa!!!! *
Margarida Alegria (8-12 -2011)
* e arrecadam  mais uns milhões em breve, vão ver!

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