sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal 1: qual quê "It's a Wonderful Life"?! :((


("It's  a Wonderful Life" de Frank Capra, nova versão para o Final, por "monta72", noYouTube)

Há bocado chorei de raiva,como não fazia há muito tempo...
Tinha ido visitar o "Berço da  Caridade",  a casa para bebés e crianças pequenas abandonadas, uma das várias casas pertencentes à obra fundada pelo padre Gil. Era algo a que estava habituada a fazer, com relativa regularidade quase anual, por  esta época. Não me envergonho de dizer embora nunca o tivesse contado a ninguém, para além  de familiares mais chegados (devemos ter vergonha de muitas coisas,mas jamais de nos lembrarmos dos outros),porém  agora preciso de o fazer: fazia-o há muitos anos, desde a minha adolescência, nesses tempos indo com amigos passar algumas tardes de sábado a brincar e lanchar com esses pequeninos e o grupo de senhoras que de alma e coração os criavam como de verdadeiros filhos fossem. Tinham uma vivenda confortável, em zona calma residencial da cidade, com quintal simpático e arborizado. A maioria eram bebés de colo mas havia sempre uma ou outra criança mais velhinha, aé aos 7 ou 8 anos . Centenas de crianças foram ali salvas da miséria e/ou da ausência de Amor e Carinho.  O termo "Caridade"da casa não representava a "Caridadezinha" de estilo Senhoras da Mocidade Portuguesa, como a que parece estar por aí em voga, de novo. Era a "Caridade" no sentido bíblico de S. Paulo, como sinónimo de Amor, aquela que vale mais que falar muitas línguas e que até ultrapassa a força da Fé e da Esperança.
Pois bem: chegada lá hoje, foi o choque! Pensei até que me havia enganado na porta e  percorri toda a rua. Mas era uma realidade: a vivenda, uma sólida construção dos anos 60, tinha as paredes laterais derrubadas, o portão estava selado a cadeado, o belo jardim abandonado. Na parede fronteira, um cartaz de "Vende-se", já desleixado.
Há algum tempo ouvira rumores que a obra estava em dificuldades financeiras, como tantas outras neste tempo de nojenta crise. Mas como sabia que a obra vivia apenas dos apoios que lhes davam as boas-vontades, confiei que não falhassem os gestos amigos que impedissem o pior. Frei Gil já falecera há muitos anos e a obra sobrevivera sempre, tanto esta casa como as outras para adolescentes e jovens.
Hoje porém, verifiquei que algo não correra tão bem e então as lágrimas correram-me, de raiva, como já disse, para com este mundo dominado por bestas. E chorei de raiva, também, por não me ter preocupado muito antes, pelo meu tipo de apoio apressado, fugaz, envergonhado e natalício, sem tempo para cuidar mais daquelas crianças ao longo do ano.
A zona é considerada nobre, sempre muito cobiçada pelos novos-ricos e pelos cultores do betão. Se bem me lembro a casa era cedida por um benemérito amigo, há já décadas e décadas. Ao observar a forma como agora estava tratada, não era difícil adivinhar o que acontecera, pois conheço dezenas de casos semelhantes: o dito benemérito lá falecera , chegara a "vez" de algum herdeiro distante e mais insensível que reclamara o que "era dele/a", a contar os tostõezinhos e o lucro. Lá despejara as pobres senhoras e as crianças(espero que ao menos com uma boa indemnização, mas duvido muito!), sem pudor, lá tentara as obras, num primeiro momento e não tivera dinheiro para tanto, tendo agora posto a casa à venda,  mais uma casa outrora bem cuidada e cheia de vida e risos entregue ao musgo do tempo e da ganância humana! Aquela casa era  e fora o lar de muitas crianças, agora é apenas um lugar. Um lugar esventrado e inútil.
O que mais me impressão causou, ainda para mais, foi não conseguir encontrar vizinhos que me soubessem explicar o que acontecera, para onde haviam mudado e Se tinham nova casa. Indaguei em algumas portas em redor e em moradores que passavam, mas ninguém sabia o que acontecera àqueles vizinhos há tantas décadas ali, num lugar que fora tão acarinhado por tantos. Só que já há alguns meses já por  lá não estavam.
É assim a memória do Mundo. É assim a sua capacidade de Atenção... E eu fora, indirectamente, cúmplice também ...:'((
Regressei a casa, desanimada, para ainda ver mais uma medida pseudo-troika dos desgovernantes, na calha para o ano que vem e já a saltar para os jornais:"Duração do subsídio de desemprego pode vir a ser reduzida até 75 %" (e isto até para desempregados acima dos 40 anos, hoje em dia já considerados não recicláveis pela maioria do nosso patronato).
E ainda a notícia de novos aumentos dos transportes, que se prevêem enormes! (mas que simpaticamente os desgovernantes dizem ser "SÓ" para Fevereiro). Grandes governantes!
São estes trastes  todos que nos custa aceitar como humanos que querem para sempre destruir o Natal e a vida das pessoas, estes herdeiros de casas que despejam sem um pingo de alma, todos esses especuladores do lucro que levam empresas e países à falência e  todos os seus ajudantes "Reis Magos", Gaspar, Pedro "Baltazar" e Relvas "Melchior.
Já nem me preocupam os "infelizes" que desprezam o Natal de outras formas, só porque são egocêntricos elevados à máxima potência, odiando o sentido do Natal junto dos seus, mas desejando boas Festas a desconhecidos, aos importantes e aos estrangeiros. Esses são patéticos,uns tristes, não há muito a fazer, se eles próprios não quiserem mudar, fazer Natal (para si, mas acima de tudo por o fazerem  PARA os OUTROS).
O que me apetecia, neste momento é que acontecesse a esses Tios Patinhas /Mr. Scrooge das altas Finanças e de muita Avareza,a todos esses comedores de dinheiro e heranças e aos seus amigos dos ratings e Bolsa, o que aquele criativo no  video  do Youtube acrescentou ao final do famoso "Do Céu Caíu uma Estrela" ("It´s a wonderful Life"), de Capra. ORA VEJAM ATÉ AO FIM! Pode parecer terrível, mas julgo que por vezes esses Monstros do Dinheiro, esses Srs Potter (o "Scrooge" do filme, o único que não se arrepende ou sente piedade pelos outros, pois substituiu o coração por um cofre). Confesso que seria um Natal mais justo  para todos, PELO MENOS UMA VEZ que fosse, malditos sejam! :(((não se assustem, segue já a mensagem mais positiva e natalícia para a quadra. Agora tinha de desabafar a minha amargura!)
Margarida Alegria (24/12/2011)

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