quinta-feira, 25 de abril de 2013

No dia da Liberdade portuguesa

(o principal herói do 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia,sempre humilde, um entre os seus, com o cravo que se tornou no símbolo de uma revolução pacífica)

25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo 

Onde emergimos da noite e do silêncio 

E livres habitamos a substância do tempo

(Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas", 1977)

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E contrasta tudo isto com o discurso do Presidente da República, que  nem consegui escutar até ao fim, para não vomitar, numa tristonha comemoração oficial dos 39 anos da revolução.
Por Deus! Um discurso apenas em redor dos "ajustamentos", do "programa de reestruturação", da Economia (leia-se, Finanças), da "necessidade de consensos socio-políticos" ( e ao apelar a tal usando  um tom de voz de uma sanha exaltada e clubística que lembra um seu discurso revanchista de tomada de posse e os famosos discursos no congresso do seu partido, quando subiu ao poder, fingindo uma inocente viagem à Figueira da Foz só para fazer a rodagem do carro!). E as taxas de não -sei- quê e o enjoativo "regresso aos mercados", e a "limitação da dívida pública", com umas breves lágrimas choradas pelo desemprego e as dificuldades, e o resgate pela troika como inevitável... e "economês", economês e mais economês, desse de excel e de regras de mercado que já deveria ter percebido que é um modelo económico global que está ultrapassado e moribundo e está a destruir a Europa...
Mas é como tantos políticos e outros vulgares membros de "elites", que não entenderam ainda quais são as verdadeiras e mais fundas inquietações dos portugueses, que vêem morrer a sua democracia, a Liberdade, as suas modestas vidas transformadas em Infernos por via destas teorias da austeridade. E o Próprio PR a defender quer não há via alternativa (?!)  e a deitar números e percentagens e "indicadores" disto e daquilo, como se fosse o fundamental ou sequer tivesse verdadeira ligação à realidade dos cidadãos. Outro político pequenino como a maioria  que o rodeava na Assembleia e que enxameia o país, um político mesquinho e cheio de "recadinhos", sendo a maioria dos que deu para os partidos da oposição (especialmente o PS) e os que reclamam a demissão do governo e de eleições, lembrando que o poder efectivo do país que ajudou a vender e subjugar, o poder da "Troika" (que vezes sem conta mencionou, e como "legítima", num discurso do Dia da Liberdade!), irá continuar a prevalecer, "seja quem ganhe as eleições" (como disse, assim mesmo!)...Quem sempre foi tão calculista para a sua própria reeleição, ao longo do seu percurso pelo poder, em todas as medidas que tomou e discursos que fez na vida, agora apelava, hipocritamente, ao ser importante não se guiarem por "calendários eleitorais"... ah, "bem prega Frei Tomás"...
Em suma, inqualificável, mesquinho, ridículo de tanto jargão economicista, um discurso que não parecia escrito por um Presidente que nos devia representar a todos, DEFENDER a nossa democracia, a nossa independência, a nossa Liberdade, mas que poderia ter saído da pena ou do teclado de um qualquer Vítor Bento ou equivalente, daqueles "especialistas" das teorias  cegas que nos têm arrastado para o abismo, daqueles que lamentam muito o aumento do desemprego, mas que o consideram um mero "efeito secundário" (sim, V. Bento dixit!) das "necessárias" medidas de austeridade.
Uma sombra negra, cega e facciosa em forma discursiva, no Dia em que havia que apelar aos valores supremos da ainda jovem democracia, à Esperança fundada na Liberdade e na identidade nacional e não nos números.
Ironicamente, uma nuvem escura e crispada, num dia de sol que nos foi hoje presenteado...
 Não sei qual terá sido a reacção dos diferentes partidos a este discurso, nem me interessa. Só sei que sinto, escutando-o como cidadã "comum", que Portugal merecia melhor!
Ao menos a Natureza e a radiosa Primavera contradisseram-no, com coros de pássaros e céu azul, comemorando o "dia inicial inteiro e limpo" dos versos de Sophia e apontaram-nos um outro caminho que não esse do conformismo aos ditames de ditaduras externas e financeiras dos mercados  "nervosos" e duma UE desorientada: o céu e o sol aconselharam-nos, tal como esse outro poeta, José Régio, a um "SEI QUE NÃO VOU POR AÍ".
--Optemos sempre e sempre pelo caminho da Democracia e da Liberdade,-- pareceram-nos alertar em uníssono a luz, o céu, os pássaros, o sol!
"Alergia" (25-4-2013, 39º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal, in blog "Alegrias e Alergias")

4 comentários:

  1. Vim visitar este cantinho. Gostei e se me permitires vou ficar como seguidor.

    O 25 de abril ainda está por se fazer....todos estes anos depois. Teremos que reinvintar novos cravos.

    Beijinho e bom domingo

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    1. Só agora pude regressar aqui.
      À vontade, caro JP! Bem-vindo!
      De facto o maior problema é que a Liberdade e a Democracia que o 25 de Abril trouxe, ainda ficou parcialmente por completar, em muita coisa e sobretudo dentro de muitas cabeças...
      Beijinhos (e vou retribuir a visita)

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  2. Ai, ai a liberdade!
    Eu não acredito na sua plenitude.

    Sou uma desiludida.

    Não há liberdade, ponto.

    Queres que divague sobre o assunto?

    Não valerá a pena, ando demasiado negativa,
    .e.".desinpirada.

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  3. Ai! Não fales assim, rapariga!:(
    A Liberdade existe , sim senhora, embora a estejam a tentar abafar.
    Cabe a cada um de nós impedir que esse e outros medos se instalem!
    E quero ver-te mais animada, ok?
    Onde está aquilo que dizias de viver o dia- a -dia , de o saborear?
    Beijinhos!

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