segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Anti-AO: e a bola de neve cresce e cresce! ;)

(cães "bola-de-neve"- escolhi a imagem porque a achei digna de divulgação! :)))

A "Bola de neve" anti-AO continua a rolar! :))
Como já o desejava neste Post AQUI, uns e outros , nos vários pontos de Portugal e do mundo da CPLP, vão saindo da casca para criticar a viva voz o rocambolesco "Novo" Acordo Ortográfico '90.

Primeiro, nos anos mais recentes, restavam vozes isoladas, destacando-se a luta legislativa e corajosa de João Pedro Graça e da sua ILC contra o AO. Havia petições a correr online, olimpicamente ignoradas pelos governantes (incluindo deputados). Havia a resistência do jornal Público e de outras publicações, não adoptando a nova grafia, que lembremos, ainda não é lei de facto, não tendo sido o AO, lembremos também, assinado por todos os países da CPLP. Mas o resto definhava: numa estranha metáfora do que se passa a nível de quase toda a (ausência de) resistência geral no país, as pessoas lá se iam conformando, encolhendo os ombros, "ai enfim, ELES é que mandam... que é que havemos de fazer...?". Mais revoltante era a forma como tantos professores, especialmente de Português, já se submetiam e até tentavam convencer os outros da bondade do AO, com comparações que nada têm de semelhante com o "ph" de "Pharmacia" abolido pelo acordo de 1947! Eu sei que a grande pressão que sofremos com a ameaça da aplicação do AO em exames estava pendente, mas foi incrível e vergonhosa a forma subserviente como a chamada Associação de Professores de Português, aliás dirigida por alguém que não cursou Poetuguês na Faculdade, se curvou perante o AO, quase desde o início da polémica. E quando falo na ausência de acção de muitos professores de Português, refiro-me ao não partirem deles, tantas vezes, os protestos escritos e abaixo-assinados. Deveria ter surgido uma recusa conjunta em aplicar o AO, no meio de tanta indefinição ( tanto da situação como sobretudo das incongruências linguísticas geradas pelo novo AO)...

Após a pedrada no charco da medida rebelde de Vasco Graça Moura (LER AQUI)no Centro Cultural de Belém a que passou a presidir (aqui também noticiado), a bola de neve recomeçou a rolar: seguiu-se a Faculdade de Letras de Lisboa a retirar também o conversor ortográfico dos seus computadores. Mais tarde um jornal angolano e outro em Macau vieram posicionar-se ostensivamente contra o AO. *

Há dias a própria Academia de Ciências (AC)se pronunciou(não encontro agora a reportagem da tv). Academia essa cujo dirigente (?), o português Malaca Casteleiro foi, juntamente com o já falecido linguista brasileiro Houaiss, o principal criador deste atamancado Acordo, sendo que a versão original de 1990, depois corrigida face às maiores críticas, incluia aquela ideia peregrina de acabar com os acentos nas palavras exdrúxulas (lembram-se?! Pois. O certo é que o estrago estava feito... ainda hoje muita boa gente pensa que o AO serve para "acabar com os acentos-- leia-se TODOS!-- das palavras).

O que disse agora a AC, pela voz de outro seu membro? Que a imposição do AO feita na resolução da Assembleia e pelo Governo socretino não deveria ter ido para a frente, pois os governantes nem sequer consultaram a AC sobre a urgência de generalizar a aplicação da AO. Que a própria AC se admirara com tanta pressa dessa imposição pela via política....(!!!) Ou seja, chego à conclusão que o nosso azar nacional foi o senhor M. Casteleiro ter andado tão entusiasmado a visitar o Brasil, talvez ourado pelos encantos tropical, nos idos anos 90, trazendo em troca, no bolso, o famigerado AO! ...:P

Agora temos um novo paladino, desta vez na área das leis, o que nos deixa mais esperançosos, pois são os juristas que têm uma substancial parte do poder em Portugal. Noticia de hoje, no Público:




Diz que a nova Ortografia fere a Constituição da República e que "uma língua não se muda por decreto.". Apresentou, por isso, uma queixa na Provedoria de Justiça.

O novo paladino chama-se Ivo Miguel Barroso e é professor de Direito na FDUL.

Continuemos portanto a fazer o que está ao nosso alcance e esperemos que mais organismos e individualidades de destaque tomem posição contra o absurdo AO- Ver a sintese da situação nesta notícia AQUI-- (pois infelizmente é o que ajuda um protesto como este a ter maior impacto, num país tão mal informado e ainda tão conformado).

E que a bola de neve seja como aqueles dois cães a escoltar alegremente o AO para fora dos textos do Português! ;)

"Alergia" (13-2-2012, in blog "Alegrias e Alergias").
* Obrigada, Ana C.!

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ADENDAS, em 14-2-2012 (para quem ainda não estiver convencido sobre a argumentação Anti-AO). Os destaques a negro são meus:

- Retirado da excelente crónica de Nuno Pacheco, do Público de ontem, dia 13:

Excertos do longo editorial do "Jornal de Angola"-- "Sabemos que somos falantes de ums Língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular.Do "português tabeliónico" aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades."

"Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula."

"O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o Português seja uma língua de trabalho da ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras."

- De Paulo Franchetti, critico literário, escritor e professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Brasil), em entrevista ao blogue "Tantas páginas"-- "O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente mal feito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos talvez dcorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras)"; e " A ortografia brasileira não será igual à portuguesa. Nem mesmo , agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a possibilidade de de grafias duplas permite inclusive a criação de híbridos"; E ainda "Nem vale a pena referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes, obsolescência súbita do material didáctico adquirido pelas famílias, adequação dos programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do hífen e outras miuçalhas."

Também no Diário de Notícias de 13 de Fevereiro (em papel), foi publicado um artigo de opinião conjunto dos professores da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, José de Faria Costa e Francisco Ferreira de Almeida, que apresenta a argumentação jurídica contra a adopção do novo AO( talvez demasiado jurídico para os "leigos", com termos rebuscados da jurisprudência como "postergar normas cosntantes","se justifica,quanto antes sobrestar na decisão". Infelizmente não há versão online, mas retiro apenas umas passagens pequenas: "A língua deve ser olhada e valorada como um território de tendencial espaço livre de direito"; e "Com o Acordo Ortográfico, Portugal , acometido de um juridiciante voluntarismo excessivo, tristemente capitulou perante um patente abastardamento da língua portuguesa, coonestando, à guisa de autoflagelação, uma arremetida contra importante vertente do seu riquíssimo -- velho, de quase nove séculos -- património histórico e cultural."

"Autoflagelação" é um termo adequado: até parece que devemos ter vergonha de a nossa ortografia ser mais "antiquada" ou "menos moderna", expressão tão acarinhada políticos como Sócrates, um dos principais responsáveis por esta apressada implementação do AO na Administração , nos escritos, nas escolas.... Mais uma trapalhada socretina que urge desfazer. Ou vão, como em tantas outras políticas erradas desse senhor, dar o triste facto como consumado e não mexer? Se é para poupar dinheiro, mais vale não estar agora a inventar uma nova estrutura de Administração local, dando cabo das Comissões de Coordenação (CCDRs) e Freguesias, armados em "aprendizes de feiticeiro" de realidades que não dominam (para "cortar gorduras"... inventaram MAIS UM INSTITUTO Público, o do "Território"?! Pois...). Parar o Disparate Ortográfico sairá bem mais barato ao país que isso. E sobretudo será um gesto de identidade Cultural para toda a CPLP. Senhor Secretário de Estado , escritor e editor, J. Viegas: onde pára? Senhor MEC Crato, inimigo de "eduquês" e de utras formas de estupidez, pelo que proclamava: não se pronuncia? Ah, certo... quem tem de decidir é a Troika, a troika esqueceu-se de falar nisto, não foi?.

"Alergia" (14-2-2012)




















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