sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Chavões em destak (ou: esta jornalista e um carapau de corrida são o mesmo?)

(imagem de :"Laboratório da parvoíce")


(Texto para saborear com calma, com um cálice de Porto ou um chocolate, enquanto os iluminados não os considerarem "acima das nossas possibilidades. Ou : como de um texto pequenito e com ideias pequenitas, surge um texto de protesto bem mais longo, mas também com mais ideias para ler. Aproveitando a isenção de IVA)

Há textos jornalísticos,-- de comentário, crónica ou até mesmo editorial, -- que ultrapassam tanto a racionalidade e que, por outro lado, dão tanto "sumo" para uma análise de chavões e todo o tipo de ideias feitas, que é difícil resistir a ignorar a sua insignificância.
O que os torna ainda mais "acarianos"(vide: ácaro) no que às alergias que provocam, é o facto de muitas vezes virem impressos em milhares de exemplares,em difusão alargada, enquanto tanto bom livro é condenado injustamente às prateleiras dos monos. Um bom exemplo de que este Mundo não é mesmo justo.

Portanto, normalmente acabo por não postar sobre eles. A não ser quando, como no caso que se analiso adiante, há que tentar de alguma forma combater os chavões, as frases feitas e, sobretudo as ideias feitas e "pronto-a-vestir" que pretendem vincular nas cabeças dos cidadãos, numa espécie de lenta lavagem cerebral colectiva. Neste caso, a que nos quer convencer que nos devemos submeter ao que nos foi traçado, à inevitabilidade das coisas, ao conformismo. O tipo de "status quo" na berra é aquele do que "vivemos acima das nossas possibilidades" e o "não há alternativa a estas medidas" e que temos de ficar mais pobrezinhos e que isso de termos andado a ser roubados durante décadas é culpa de todos, responsabilidade de todos e que somos nós TODOS que devemos dinheiro aos mercados, etc etc.Brrrrr! Umas tretas!

Embora haja os escribas-maiores que alardeiam essa teoria, há também os escribas de segunda-linha, tipo brigada de apoio, que vão debitando esses pensamentos, por entre catálogos de carteiras e lantejoulas ou anúncios de produtos para o lar. Mesmo que não se costume ler esses "papiros" preciosos, por vezes esbarra-se com eles inadvertidamente, nas salas de espera de consultórios, no cabeleireiro ou nos cafés,pois, para quem goste de ler e de saber o mundo ,passam por serem um pouco mais substanciais que as concorrentes opções de "Hola"s ou de "Novas Gentes". Fatal engano! Ao menos as revistas cor-de-rosa dizem ao que vêm!
Um dos maiores desse fatais enganos costumam ser os brilhantes (cof cof) editoriais de uma tal (jornalista?) Catarina Carvalho, no Notícias Magazine, que não nos cessa de surpreender com as suas visões do mundo e do país! Lembro-me, a título de exemplo, de como defendeu já que seguissemos o exemplo dos chineses (economicamente!!!), ou de como se devia imitar a cabeleireira dela, a trabalhar até aos feriados (para a atender a ela...), ou de como um dos mais graves factores para que há uns meses estivessemos a baixar de "rating" para as famosas agências era porque... SIM PASMEM( oh mas que profunda teoria!)... porque as "Poor and fitch and moodys an dingdong and standards and bastards and Co." que nos "ratam" viam que os portugueses não queriam trabalhar, porque(tcham tcham!!!)... o modelo de avaliação dos professores havia sido então suspenso no Parlamento!!!

Estão a ver o raciocínio? Os cowboys da especulação andariam, quem sabe, a ler notícias sobre Portugal, paizeco que eles pensam que fica lá para o norte de África ou América do Sul, à direita das ilhas Caimão, uns metros depois do talho, e só nos julgariam dignos do nível Lixo, porque se interessavam muito pelos assuntos da Educação mundial e portuguesa em particular...
Estive na altura para escrever sobre isso noutro blogue, mas depois meteram-se assuntos mais importantes na calha.

Essa Catarina assina como directora da revista domingueira e veio substituir a sua colega Isabel Stilwell, do tempo em que a mesma publicação tinha algum interesse. Posto que a mesma Isabel andou a escrever livros (uma biografias romanceadas, até com piada, de rainhas de Portugal) e artigos noutras publicações da concorrência. "Da concorrência" talvez seja boa qualificação, ou melhor poderiamos acrescentar "concorrência a Catarina Carvalho" , pois, parecendo antigamente uma pessoa de bom senso com algumas ideias, aparenta ter entrado no mesmo tipo de delírios conformisto-iluminados da colega. Já muito andou a ser dissecado na blogosfera um texto que escreveu a criticar a "Geração à Rasca" e ainda uma ou outra "preciosidade" quem tem vindo a sair da sua pena.Ressalvo desde já que dantes até tinha alguma consideração por I. S. como jornalista, mas penso que será mais um caso em que é o afastamento da realidade vivida pela maioria da população e o crescer destes jornalistas numa espécie de "limbo" social que os leva a debitar tais pensamentos.

Hoje trago à berlinda um editorial de I. Stilwell, do "Destak" (11 -11-2011), um daqueles jornais oferecidos gratuitamente em semáforos ou hospitais. Por isso, como dizia acima, com muita tiragem e muitos leitores, mesmo que pouco voluntários. E aí surge das tais lavagens ao cérebro típico dos situacionistas que querem que as pessoas continuem a aguentar as "troikadas" muito "mansamente".

Primeiro, estranhei que um jornal ,que é quase na metade feito de anúncios (neste caso 11 páginas de anúncios num total de 18), tenha um editorial, texto jornalístico que normalmente exprime as ideias base da direcção sobre o que aí é noticiado. Como sintetizaria e conjugaria ela as vantagens do "Vibroplate", com o hipermercado, a toyota e ainda os auto-anúncios? Mas, está bem, um editorial pode ser também um texto de opinião, em usos mais recentes. Mas escrito por jornalista. Pelo que não deveria ser com o principal propósito de lavar cérebros. Enfim, leiamos, pois até nem é dos piores jornais gratuitos e dá notícias importantes, como a de que Top Models vão fazer novo video dos Duran Duran...;)) ou a previsão do tempo....

O título é apelativo : "OS números não são o mau da fita".

Vai portanto falar de economia, aparentemente, e vai dizer-nos quem é que são mesmo "os maus da fita", esperamos. Finalmente uma saída para a crise!

Passa logo depois a comentar uma frase recente de Mário Soares de que "as pessoas estão à frente dos números". Hum....Começo a imaginar Soares a preparar esse discurso , enquanto recebe mais um belo cheque da autarquia para a sua fundação, tendo a inspiração vinda dos muitos zeros à direita da cifra, que logo lhe sugeriram a sentimental imagem das cabeças redondinhas de muitas pessoas, à frente dos outros números... (ai lá estou também a divagar, cala-te boca!).


Bem, queria o antigo PR dizer, no fundo, que as pessoas e os seus direitos eram mais importantes que o dinheiro e as finanças. No fundo, o que muita gente defende: a vida do país e das pessoas não é só feita de "dívidas" aos "nervosos mercados". A vida das pessoas não é só feita de trabalho nem de dinheiro. O dinheiro e o trabalho devem servir as pessoas e não o contrário. Há que ter outros valores, como o tempo para si, para a família e amigos, o lazer, uma felicidade equilibrada.
Se era esta a intenção de M. Soares ao dizer aquilo, concordo. Concordaria I. Stilwell?


Dizia ela, que em princípio sim. Mas depois começou num relambório de que "o dinheiro representa a realidade e por isso não é infinito nem chega para tudo"(sic). Que era lamentável o aumento do desemprego, mas que o dinheiro não estica nem é "mágico ou infinito" e que não há dinheiro e que há que "saber fazer escolhas"(sic) no que se gasta que é preciso optar " entre as finanças e o tratamento de uma doença ou de outra"(sic! sic!) bláblá e blá e que era preciso entender que "Não podemos estar todos felizes ao mesmo tempo." (sic sic sic!!!!!!)


Nem sei por onde começar, a não ser no dizer que provavelmente poderia distribuir estacas virtuais para segura os queixos que possam ter caído, como aconteceu ao meu ao ler isto pela primeira vez. Imagino o quão satisfeitos os senhores dos mercados bolsistas" devem ter ficado. Ganharam mais uma porta-voz para as suas ideologias doentias. Pois Isabel S. pôs a "mão na ferida" , corajosamente explicou aos mais pobrezinhos que este é um mundo onde reina a bela lei do mais forte economicamente, a realista lei da selvajaria especulativa, onde NEM TODOS PODEM SER FELIZES AO MESMO TEMPO! Pois não! Apenas os bons jogadores com dinheiros privados e públicos. E que sabem "fazer escolhas", desde que tenham um bom corrector e saibam manipular os boatos financeiros! E que se se tiver de escolher entre as finanças dos Bancos, coitados, cheios de lucros e bons cobradores de taxas, entre pagar as contas das agências de rating ou do FMI e... a asma dos filhos ou o cancro dos pais (uma ou outra doença, enfim, paciência)... claro que há que sacrificar os segundos! Porque o dinheiro não é "mágico nem infinito"... a não ser quando é para fazer dinheiro a partir do dinheiro, em especulação bolsista, isso é outra coisa!


Só apetece levar a ironia ao máximo, perante estas teorias infelizes! Já não bastava o papelão dos ministros que nos levam a todos para o cadafalso da bancarrota e ainda vêm jornalistas com alguma rodagem defender o primado do dinheiro, na estranha aritmética de que:
PESSOAS = DINHEIRO



E sublinha a ideia no período final do texto, que deve ser o "tour de force" inesperado que tanto gostam de dar às crónicas, mas que considero que mais adequado seria chamar de "punch line", como se de um texto de comédia se tratasse. Aí vai (e repare-se no tom paternalista que demonstra o que perpassa em todo o texto):



"E é por tudo isto que pessoas e números não se podem dissociar, nem dizer que uns devem estar à frente dos outros, porque são o mesmo."



Até podia concordar com a primeira parte e acho que nisso também pensava Mário Soares, por contraste com os contabilistas funerários que agora nos desgovernam : não podemos dissociar os números (do dinheiro) (da vida) das pessoas.


Mas na segunda parte há uma guinada para,digamos, uma espécie de falso silogismo que mete dó.


Resumindo o editorial de I. S. num silogismo falso que parece construir:


-As pessoas precisam de dinheiro para viver


- O dinheiro é igual aos números e não é "elástico"


- LOGO: As pessoas são o mesmo que os números (dinheiro)


(ou estarei a ler mal?)


Nesse caso, também poderia construir os meus silogismos:

- I. Stilwell é uma jornalista

- Alguns jornalistas são "carapaus de corrida",

- LOGO: I. S. é um carapau de corrida (ou, para estrangeirar o nome, um "running mackerel")

Ou ainda:

- Isabel S. foi directora do "Notícias magazine";

-Catarina Carvalho é directora do "N. Magazine";

- LOGO: I. Stilwell e C. Carvalho são o mesmo.


"Qué tal?" Regressa, capa da "Hola!" com a nubente nonagenária duquesa de Alba, que estás perdoada! :)

"Alergia" (23-11-2011, a publicar apenas no dia 25, após a Greve Geral)







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