quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

As últimas horas do feriado condenado oficialmente

(Miguel de Vasconcelos é defenestrado, em 1640)


Sobre o Dia da Restauração, que hoje se comemora oficialmente talvez pela última vez, já disse tudo o que pensava, há precisamente um ano, num detalhado texto noutro blogue,AQUI:

"É DENTRO DE CADA UM QUE COMEÇA A RESTAURAÇÃO E A REVOLUÇÃO" ( Nota:se quiserem comentar é fazê-lo aqui, pois esse blogue já está fechado)

... Não altero uma única vírgula desde então. Aí está tudo o que penso sobre a importância da Mudança, da Liberdade, da Revolução pessoal e da Restauração (da liberdade e de nós próprios). Pois a revolução mais difícil é a da vida de cada um e a Restauração começa dentro de cada um de nós. Daí falharem tanto os consensos.

De resto, vou comentar agora um pouco a estupidez hipócrita e pura do querer abolir os feriados. Aí vai.

Há muitos países no Mundo, desses dos ditos exemplares e mais prósperos, tanto na Ásia como pela Europa, que têm tantos ou mais feriados que nós. Se estes não coincidem entre países e atrapalham as exportações e contactos, então é uma questão de as empresas organizarem melhor as suas agendas. Se é por mais umas horas de trabalho, é contraproducente e com pouco peso efectivo. É ridículo. Ainda acabar com algumas tolerâncias de ponto e "pontes", aceito, ou poderá ser algo a combinar entre o patronato e os seus funcionários, caso a caso.

Mas abolir feriados e andar a debater em aflição tonta, pois afinal todos eles são importantes para as populações, histórica ou religiosamente, é absurdo. O que ainda por cima leva a prevalecer a guerra de lobbies (ou de "Alecrim e Manjerona" !), como agora entre os republicanos e os monárquicos, se é mais importante o 5 de Outubro ou o 1 de Dezembro, se a Nossa Senhora da Conceição é uma "santa" mais poderosa do que a da Assunção ou Vice-versa! Afinal, não é a mesma Nossa Senhora? E não é o mesmo país?

Julgo que é mesmo uma discussão contraproducente, que só vai tirar as poucas hipóteses de descanso a muita gente e, a curto e longo prazos vai deprimir ainda mais o país em crise.

Será fácil aos gestores de empresas, o patronato em geral, defender o fim dos feriados, visto que eles próprios podem ter um horário mais flexível, onde até as simples viagens de negócios proporcionam algum desanuviar das rotinas do trabalho. Já o operário fabril ou o funcionário administrativo não tem essas hipóteses. E, como já aqui disse em posts anteriores, há mais vida para além dos mercados, da crise financeira e das dívidas. Há que conseguir tempos para a família, o lazer e desporto, a cultura, ou simplesmente para o sonhar.

Por isso subscrevo as palavras de muitos depoimentos num artigo do Público de hoje(versão papel), que tem por título "com menos feriados Portugal fica mais pobre" (por Ana Dias Cordeiro) ou ainda com este AQUI, no mesmo jornal.


Mas não apenas por questões de patriotismo, --que será bacoco até num país moribundo que permite ser comandado por uma Troika, que diz COMO se deve governar o país para obter o dinheiro para lhe pagar...-- mas por questão de direitos dos cidadãos, como expliquei acima, e por achar sobretudo que não é a abolição de feriados, nem dos 13 existentes, que vai incentivar a Economia ou aumentar a produtividade. E é uma porta aberta para depois o patronato vir a reclamar a abolição do fim-se-semana à inglesa, ou a redução das férias, ou o fim das férias pagas... é só iniciar este tipo de medidas que o neoliberalismo serôdio e voraz vigente levará tudo à frente, aumentando as já "colossais" desigualdades entre os portugueses!


O 1 de Dezembro marca a INDEPENDÊNCIA do país. Ou afinal acham que não foi importante? Hum... talvez tenham razão: estariamos um pouco melhor se tivéssemos continuado a ser espanhóis. (suspiro)


A Independência pela mão de D. Afonso Henriques já deixou de ser comemorada, com a força do 1 de Dezembro, provavelmente. Mas o 25 de Abril não foi o mesmo tipo de libertação! Muito menos o 5 de Outubro, porque afinal, em termos de mentalidade, continuámos a ser um povo monárquico no sentir, com uma minoria republicana nas cidades e nas elites. Basta ver como até tivemos um Presidente da República, republicano dos cinco costados, que foi comparado a um Rei durante os seus mandatos. Sim! Mário Soares! Lembram-se? :))

Já os feriados religiosos, embora muita gente já não os cumpra em rituais, às vezes é o que resta de festa e de identidade e pausa da lavoura no interior de Portugal, já tão abandonado e empobrecido. Não destruamos ainda mais a cultura tradicional do país nem as ocasiões de reencontro de famílias e comunidades!


Para além de irmos dar uma terrível machadada na indústria de pirotecnia, uma das únicas em que conseguimos competir com os chineses! ;)


E não é em chineses que nos querem transformar a todos, com estas medidas patetas de "gestão" tosca e pouco imaginativa ?!


Então deixem-nos as festas e as pausas sem as quais corremos o perigo de deixarmos de ser portugueses, pachorrentos mas criativos, e passarmos a ser cinzentões como algumas de sociedades soturnas sem sol. Essas que até no saber viver dos povos do Sul estão ultimamante a admirar o exemplo para arrepiar o estilo de vida, antes apenas de trabalho. A saber aproveitar mesmo os momentos de sol que não têm em igual abundância.

Cá para mim, os povos "troikas" de nariz empinado para com os países "PIIGS", estão ansiosos para que estes se tornem neles, sem tempo que não para o trabalho... para depois poderem ser ELES mais como nós somos. Só que esse é um segredo bem escondido que não revelam aos seus obedientes servos/bons alunos de Portugal! Ai pois é! Deve ser esse o "plano"! Admirem-se!!! ;)

(e ainda um detalhe: como poderemos, futuramente, compreender e saborear o termo "defenestrar", se abolirmos a lembrança do 1 de Dezembro?!) :))

"Alergia" (1 de Dezembro de 2011, dia da Comemoração da Restauração da Independência de Portugal)

Sem comentários:

Enviar um comentário