segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Infâmia! (quando o telefone toca...)

Tenho estado a adiar a publicação sobre um dos acontecimentos mais ABJECTOS e cruéis da semana. Mas mesmo assim não tenho palavras que consigam exprimir todo o asco, a revolta a solidariedade para com quem foi alvo de tal atitude noticiada um  pouco por cada jornal do país.
Já AQUI noticiara o anúncio de cortes no Ensino da Língua Portuguesa no Estrangeiro, feito há escassas semanas.
Adivinharam com certeza: refiro-me ao facto de, esta semana, várias dezenas de professores portugueses, já residentes noutros países terem recebido POR TELEFONE (!!!!) o AVISO de que seriam dispensados, sem mais, a PARTIR DE JANEIRO DE 2012 !
Ler aqui a notícia completa:
Mais se me revolveram as entranhas ao ler o relato compungido, em reportagem alargada da mesma jornalista do Público, Clara Viana ( ontem, dia 3 de Dezembro de 2011), de vários casos de colegas  de Português que foram assim, posso usar o termo, alvo de puro e simples MOBBING (Assédio laboral psicológico) por parte do Ministério do Negócios Estrangeiros e  do Instituto Camões. Infelizmente a reportagem está apenas em versão de papel, pelo que não a poderei "linkar" aqui.
Basta, porém dizer, que entre a descrição do  total desamparo de quem vai ficar sem qualquer sustento para pagar casa e vida nos países para onde se haviam mudado "de armas e bagagens"(Suíça, Espanha...) e  de quem até  percorria com entusiasmo entre 5 a 100 km diários, para leccionar em várias localidades, salta à vista o estado entre a revolta e a desorientação,de profissionais diante da forma, repito, NOJENTA, VIL e DESUMANA como  (essas professoras) foram informalmente (?) despedidas, sem qualquer precisão quanto aos seus direitos e futuro("ninguém se digna responder" às angústias e dúvidas  quer destes professores quer dos seus alunos, diz uma das vítimas).
Retiro apenas umas frases da reportagem entitulada:
"No dia 30 de Novembro fui chicoteada por telefone" (pág.ª 14).
-" Desabei. Chorei. Vi a minha vida virada do avesso! (...) nessa noite não dormi. Penso em mim e em todos os que estão como eu a sofrer por algo que não cometeram".(professora despedida, 47 anos)
-"Sem reacção, sem voz, sem força para me aguentar de pé, apenas consegui perguntar quais foram os critérios para a minha selecção. A resposta foi ambígua e pouco clara. (...)Voltar a Portugal? Como posso voltar? Em Portugal não tenho escola. Em Portugal eu e o meu marido não temos trabalho.Em Portugal não tenho habitação(...) Sinto-me profundamente revoltada e injustiçada. " (outra das professoras, com marido e dois filhos pequenos);
-"Os  meus sentimentos, neste momento, são de desespero, de raiva, nem sei explicar, por que não é assim que se fazem as coisas. Fui despedida por telefone:«Lamento mas o seu contrato acaba a 31 de Dezembro...»" (terceira vítima que testemunha, de 40 anos, divorciada, com a filha a  seu cargo).
- "Se a senhora tem alunos, porque a mandam embora?(...) Não vai pelo menos acabar o ano lectivo connosco? (...) Nunca mais vamos ter aulas de Português?" (algumas das perguntas dos alunos que vão subitamente ficar sem professora)
Mais um grupo de vítimas de medidas administrativas tomadas em cima do joelho e sem critério aparente e claro!
E afinal o outro , Mestre, secretário de Estado da Juventude e do Desporto não aconselhava a emigrar, que os portugueses sem perspectivas saissem da sua "zona de conforto"?(Ver ESTE post do blogue) Afinal em que ficamos?
Para além da minha revolta e solidariedade para com todos estes  professores, 49 no seu total (para já?), só me vêm à cabeça, repetidamente, as palavras cantadas por Pero Marques, o marido tonto e "chifrudo" de Inês Pereira, na Farsa teatral com o nome desta, de Gil Vicente. Enquanto ela,oportunista e espertalhona, às suas cavalitas, coloca duas longas  lousas nas orelhas dele, ao jeito das de um jerico, e faz troça do ingénuo, o pobre (predecessor da personagem mártir Zé Povinho?), vai repetindo o refrão que ela dita:
"Pois assi(m) se fazem as cousas!"...
Exacto. Em Portugal, aos doces portugueses...
... "assim se fazem as cousas"...
Margarida Alegria (4 de Dezembro de 2011)

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