quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Paz da qual não somos donos

( desenho de Pablo Picasso, um de vários sobre a Pomba da Paz)
A Paz é sem dúvida um dos maiores e mais belos valores do Mundo. Uma preciosidade, um tesouro. E por isso a devemos conservar num cofre  resistente,chamado coração. É um bem muito frágil, que agora está aqui, mas de repente parece evaporar-se.
Assim também o perdão, sentimento tão fora de moda. Por vezes juramos para nós próprios e para os outros: desta não perdoo, NUNCA mais! Fazemos contas a supostos "débitos e créditos" de quem nos magoou, "encerramos" contas e balanços. No entanto, esquecemos que o Perdão, tal como a Paz, não é um sentimento como outros. Como os maiores sentimentos que existem, não é só um sentimento, mas uma atitude. E, tal como a Paz, não é nem pode ser nossa exclusiva pertença. É algo que só faz sentido repartindo.
Há lá tantas palavras que se expliquem a si próprias como "PERDOAR"? Deriva de "donare">doar > dar com um prefixo que significa "ao longo de". Por isso  Perdoar é DAR, pelo nosso caminho no mundo, é dinâmico, é "IRMOS DANDO", não uma atitude que se esgota num dado momento. E como tudo que podemos dar, é porque foi algo que também nos foi dado (por Deus, pela Vida, pelo Acaso cósmico,como bem entendam conforme a crença pessoal ou sua ausência). Não é totalmente nosso, o Perdão. É algo que está de passagem, ao nosso cuidado e que só faz sentido se o repartirmos, passando-o adiante. Por isso dificilmente nos cabe a nós negá-lo a ninguém. Se podemos voltar a ser magoados? Com certeza. A única certeza , talvez, nesta aventura que é a Vida. Não acredito que a Vida deva ser Sofrimento. Mas também não é um mecanismo pré-programado. Se tudo fosse previsível, devendo nós fechar o coração ao risco de dar e de perdoar, de sofrer,  de arrepender,de reconciliar, a nossa Vida não seria um andar ao vento e ao sol, com tudo que tem de bom e de menos bom, mas um negócio unipessoal de sentimentos, talvez com coisas apenas amenas, mas sem crescimento. E acredito também que a Vida é constante aprendizagem, crescimento. E para isso precisamos dos outros. Mesmo daqueles que, pela lógica, achamos que são perfeitamente dispensáveis no nosso caminho. Omitir isso não seria caminhar, mas parar na beira do caminho à espera de ver passar o eventual desfile ideal da nossa Vida. Estagnando, assim.

            ( desenho de Pablo Picasso, também sobre a Paz. Não recordo os títulos)

De igual modo a Paz. Não é um bem particular, uma tranquilidade, com que às vezes a confundimos. Pode ser isso, mas deve também ser acção: o acolher quem quer ser acolhido, o escutar quem quer ser ouvido, o deitar para trás das costas o que é menos importante, entre "mortos e feridos".
Imagino a Paz como uma grande taça de frágil cristal, cheia de água que sacia, mas que, para se equilibrar, só consegue ser transportada se por várias pessoas. Depende de um esforço CONSTANTE, ATENTO, conjunto. Com tropeços e "pataratices" no caminho. Mas sempre com espaço para mais um "carregador" que venha por bem e tenha sede dessa Paz. A Paz não nos pertence. Devemos procurar repartir a parte que nos coube em sorte,  a quem a pedir, para que ela vença nos corações humanos e no Mundo! Só assim  os libertaremos.
Viva o Novo Ano! Viva a Paz !
( um texto "pinga"-- expressão da minha família que significa "lamechas"---, eu sei, mas escrito sob a influência suave de um solzinho simpático que raia lá fora e cá dentro!) :)
Margarida Alegria (5-12-2012, in "Alegrias e Alergias")

3 comentários:

  1. Mas, que belo tratado sobre a paz, associada ao perdão.
    Gosto do pensamento de fazer parte do caminho e não ter proprietário.
    És um ser humano muito especial, Margarida.
    Única! Por onde andaste estes anos todos? Ter-me-is sido muito positivo ter uma mulher como tu a quem chamar amiga. Uma Honra e das grandes!
    Gosto muito de ti, Amiga!

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    1. Ena! Até coro! Muito obrigada! :)
      Também és uma pessoa e uma amiga especial e também gosto muito de ti!
      Beijinho

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  2. Esta reflexão foi escrita num ocasião em que tive de pensar muito sobre o perdão. Sobre o que ele "vale" para mim, para o mundo...
    E sobre a Paz que dele também advém e que tudo deveria envolver, nesta Vida.Isto, se o Mundo andasse mais direito.
    Curiosamente, escrevi-o na altura não porque precisasse do perdão de outrem, mas, bem pelo contrário, porque queria com todas as forças (e UMA VEZ MAIS) -- e estava a custar-me muito!--perdoar a alguém que me voltara a "fazer das suas".
    No fundo, queria convencer-me a mim própria do valor incondicional do Perdão.
    Estupidamente (e repito: estupidamente), ao que parece a pessoa a quem eu queria perdoar terá interpretado isto ao contrário, como uma tentativa de pedido de perdão (?!?!-- Não sei de quê), empinando ainda mais o nariz tonto. É o que acontece na cabeça de algumas pessoas doentes e sobretudo nas que têm daquelas "doenças da alma", de personalidade, como é o caso de quem sofre de Doença de Perturbação Narcisista da Personalidade.
    Nada a fazer.Parece que não há cura e também não há controle nem mudança, se a própria pesssoa não o reconhecer e não quiser mudar, controlar-se, evitando usar os outros como objectos.E como o núcleo da própria doença consiste em se achar acima dos outros e se achar o centro de ABSOLUTAMENTE TUDO(até merecedor de fictícias cosnpirações!desde o que se diz,o que pensa que se diz, dos guardanapos com ilustrações impressas que se calhar enviam mensagens... Sim, paranóias já do campo da Psicose!), como irá reconhecer e ter essa força de vontade?
    Nada a fazer por quem se acha "o máximo" insistindo nos erros e na desconsideração pelos demais.
    Continuarão a magoar os outros, com total falta de empatia ou sequer mera gratidão,continuarão a repetir os "mesmos esquemas" para se fazerem mais do que são( e para encontrarem consolo em novos inocentes que se condoerão das "penas" nebulosas de que se queixam), esquemas ocos e rapidamente desmascarados, por um tempo tolerados pelos mais bonzinhos mas mais tarde ou mais cedo afastados, por falta de mais paciência (e por não servir DE NADA dizer ou fazer mais alguma coisa). Continuarão a bater com as mesmíssimas cabeças duras contra a parede,ora na solidão ora na ilusão de uma corte de "admiradores" (???) com o risco de poderem um dia a vir a deparar-se com pessoas que não tenham nem paciência nem bondade, nem honestidade, arriscando-se a um fim triste até perigoso...
    Resta, pois, o texto que escrevi, que continua, apesar de tudo, a corresponder ao que penso sobre o tema.
    As verdades não deixam de o ser, pelo facto de alguns as negarem e/ou lhes virarem as costas.
    E no fim, nem que seja no fim de tudo, ou até dos Tempos... acredito que o Bem, o tão incompreensivelmente desprezado Bem,... o Bem Vencerá!

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